Lisboa dantes

Sendo lisboeta, tenho saudades dessa Lisboa que já não existe. Mas gosto muito mais desta, menos minha.

Já não reconheço Lisboa, cada vez mais acordada. Não me esqueço da Lisboa dos anos 60 e 70: vazia, triste e taciturna. Esta semana visitei o alegríssimo Mercado da Ribeira inteligentemente gerada e gerida pela cada vez mais deliciosa revista Time Out Lisboa.

Lisboa era uma seca de uma cidade. Era linda mas só por ter sido sempre linda, desde o dia em que nasceu: Lisboa foi achada e mantida por ser tão deslumbrantemente (em atenção à luz e ao lume) bonita.

Agora vejo muitas áreas diferentes de Lisboa (que não são os bairros castrantes dos santos populares) cheias de turistas portugueses e estrangeiros, empenhados em divertir-se e, previsivelmente, divertindo-se.

Foi a Catarina Portas que salvou a nossa cidade e, com ela, todo o país. A Vida Portuguesa não é uma loja: é uma escola; uma atitude; um pôr-em-prática que afecta vidas verdadeiras.

A Vida Portuguesa é uma educação. Graças ao exemplo de Catarina Portas muitos outros lisboetas arranjaram coragem para se mostrarem. E todas as semanas os jornalistas da Time Out despertam-me um desejo absurdo de prazer.

Lisboa era uma cidade cinzenta sem salvação para quem a fotograva da rua. Não havia gente. Os turistas eram ricos e ficavam nos hotéis. Os segredos que havia eram poucos e desinteressantes. Confundia-se a paz com o tédio.

Claro que, sendo lisboeta, tenho saudades dessa Lisboa que já não existe. Sou até capaz de me pôr a chorar por causa dela. Mas gosto muito mais desta, menos minha.

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