Linha Saúde 24 telefona todos os dias a 1300 idosos para saber como estão

Programa sénior foi lançado há um ano e já acompanha 20 mil pessoas com mais de 70 anos com dois telefonemas por mês.

Foto
Em 2015 o serviço destinado aos idosos pretende chegar a 50 mil pessoas Daniel Rocha

Há uma semana uma idosa contactou a Linha Saúde 24 com uma queixa inédita: se todas as amigas eram acompanhadas por este serviço, havia alguma razão para não lhe telefonarem também? De imediato foi convidada a fornecer os seus dados e juntou-se aos mais de 20 mil idosos que já são seguidos pelo programa sénior desta rede da Direcção-Geral da Saúde, contou ao PÚBLICO o administrador da linha, Luis Pedroso Lima.

No total, em média são 1300 as pessoas com mais de 70 anos que diariamente recebem um telefonema de um enfermeiro da rede, em funcionamento há um ano e que em 2015 quer chegar a um total de 50 mil idosos e dar mais respostas sociais.

A Linha Saúde 24 Sénior, lançada em 2014 e que funciona através do mesmo número da Linha Saúde 24 (808 24 24 24), é de adesão voluntária para as pessoas com mais de 70 anos. A ideia é contactar quinzenalmente os inscritos para avaliar o estado de saúde e outros indicadores e dar o encaminhamento necessário – como ajudar a marcar uma consulta ou apoiar na renovação da medicação. Se os enfermeiros não conseguirem localizar os utentes podem accionar a PSP e a GNR, o que tem sido muito raro. Além da idade, só há mais dois factores de exclusão: limitações auditivas que impeçam o contacto telefónico ou problemas de mobilidade que impossibilitem o idoso de ter um telefone ao alcance.

“Avaliamos neste programa nove dimensões baseadas no modelo de avaliação biopsicossocial e portanto avaliamos quer dimensões concretamente relacionadas com a saúde, quer os estados emocionais, de isolamento social, da nutrição a que as pessoas têm acesso ou até capacidade cognitiva e capacidade de se aperceberem do seu estado de memorização e capacidade intelectual”, sintetiza Luis Pedroso Lima e, em antecipação dos dados que serão apresentados publicamente nesta sexta-feira, explica que são sobretudo mulheres a viverem sozinhas e de zonas urbanas a utilizar a linha. Os distritos de Lisboa, Porto, Braga e Setúbal lideram a tabela, mas há dois concelhos que se destacam: Oeiras, em Lisboa, e Góis, em Coimbra.

O administrador adianta que o trabalho da Linha Saúde 24 Sénior tem evoluído, nomeadamente com protocolos com as administrações regionais de saúde do Centro e de Lisboa e a Vale do Tejo, “para através dos centros de saúde fazer o encaminhamento dos utentes que apresentarem um determinado défice e haver um acompanhamento de proximidade em reforço do contacto telefónico”. Estes protocolos justificam, por exemplo, o resultado de Góis, já que foram colocados enfermeiros no terreno no Centro e em Lisboa e Vale do Tejo a divulgarem o programa directamente junto dos utentes – até porque a principal dificuldade é chegar a pessoas com menor acesso à informação, já que a adesão é voluntária.

Mas o responsável acredita no potencial do serviço num país cada vez mais envelhecido. De acordo com o censo de 2011, cerca de 400 mil idosos vivem sozinhos e outros 804 mil vivem em companhia exclusiva de outros idosos, um aumento da ordem dos 28% em apenas uma década. Luis Pedroso Lima reconhece que ainda há muito a fazer: “Sentimos que na base das chamadas estão grandes dificuldades sociais, associadas à não toma da medicação por dificuldades financeiras de idosos com pensões muito baixas e até algumas situações em que as pessoas revelam má prática nutricional e falta de apetite que na verdade se deve também a condições económicas”.

Para Luis Pedroso Lima, “a linha vai ter de evoluir no sentido de nos cuidados de proximidade se atender não só à dimensão sanitária, mas também às condições socioeconómicas, encaminhando as pessoas para as instituições da segurança social”. “As pessoas gostam que exista esta preocupação de serem os enfermeiros a contactá-las e este sentido preventivo também é favorável. São pessoas que vivem isoladas e assim sentem que há alguém que se preocupa com elas”, defende, garantindo que os idosos dão provas da validade do serviço.

O administrador recorda o caso de uma filha que, após a morte da mãe, escreveu para a linha sénior a agradecer o acompanhamento e a recordar que das últimas preocupações da idosa foi ir à farmácia pesar-se e confirmar a altura, já que para o telefonema seguinte deveria ter estes dados para conseguirem calcular o seu índice de massa corporal. Há também um idoso com mais de 80 anos que decidiu estudar medicina e que no próximo contacto espera que a chamada seja feita por skype. Luis Pedroso Lima diz que estão a responder ao desafio e que esperam conseguir fazer a surpresa em breve.

Mais de 2000 chamadas diárias
O programa sénior juntou-se à actividade normal da Linha Saúde 24, para onde os idosos são redireccionados sempre que no programa sénior é detectada uma situação que o justifique. Criada há oito anos, a linha geral atendeu em 2014 uma média diária de 1400 chamadas e, segundo Luis Pedroso Lima, o número cresceu no primeiro trimestre deste ano para as 2000 chamadas recebidas. A estas juntam-se as 1300 chamadas que a linha faz para os idosos, o que permite chegar a valores que são “mais do dobro do que era a actividade da Linha Saúde 24 em 2014”.

Entre as principais vantagens, o administrador destaca a separação das situações de urgência hospitalar, das que podem ser vistas nos centros de saúde ou que podem aguardar em casa. “Cerca de 30% das pessoas que atendemos na linha geral têm indicação de urgência hospitalar e outro terço tem necessidade de cuidados médicos com maior ou menor brevidade. Mas 30% ficam em autocuidados com chamadas nossas seis a oito horas depois. Em 2014 fazíamos diariamente 12 chamadas de seguimento deste género e agora são quase 300 e isto é uma boa forma de triar as situações de gravidade e evitar uma ida a uma urgência”, sublinha, lembrando que quem é encaminhado para uma unidade de saúde quando chega ao estabelecimento já tem lá os seus dados e é dada prioridade.

A linha conta com uma equipa de 500 enfermeiros, todos habilitados a fazer a triagem das situações de doença no serviço normal ou o apoio sénior, ainda que cerca de 50 tenham manifestado preferência pelo trabalho com os idosos. Estão em aberto 200 contratações para os primeiros contactos com os idosos e sensibilização no terreno, mas Luis Pedroso Lima admite que têm existido dificuldades em encontrar enfermeiros interessados.

Sugerir correcção
Comentar