Leitores, eleitores

Continuaremos a fingir que o que aconteceu em Pedrogão Grande não pode acontecer em mais lado nenhum? Não basta ouvir: tem de se mostrar que se ouviu. E reagir.

Todos os jornais ingleses fizeram campanha contra Jeremy Corbyn mas, justiça lhes seja feita, desde que ele ficou em segundo lugar nas eleições têm-se comportado como se ele as tivesse ganho.

Uma das ideias falsas que os jornais propagaram foi que, por causa de Corbyn, o partido Labour iria ter a votação mais baixa desde o magnífico e inteligentíssimo Michael Foot em 1983.

Agora estão a arrepiar caminho desconfiando, com muita razão para isso, que Corbyn ganhará as próximas eleições. Nesse sentido os conservadores até vão ao ponto de preferir ter Theresa May como primeiro-ministra.

A reacção da imprensa britânica ao voto popular é saudável. Trata-se, afinal, de uma sondagem de luxo que fornece dados importantíssimos sobre os potenciais leitores.

É por isso que na primeira página do Sunday Times está Jeremy Corbyn como rock star no festival de Glastonbury. Estará a imprensa tradicional a preparar a classe média para um governo chefiado por ele? Estará a tentar cativar os jovens que, mais do que só simpatizar, votaram nele?

Um fenómeno parecido tem sido a reacção admirável ao incêndio da torre Grenfell, com dezenas de outras torres declaradas inseguras. O problema das evacuações de inquilinos é um mal menor. Agir assim é respeitar a tragédia.

Será que nós em Portugal seremos capazes de aprender com este exemplo? Ou continuaremos a fingir que o que aconteceu em Pedrogão Grande não pode acontecer em mais lado nenhum? Não basta ouvir: tem de se mostrar que se ouviu. E reagir.

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