Jovens que morreram no Meco vistos a rastejar com pedras nos tornozelos

Para sábado à tarde está agendada uma reunião em que as seis famílias vão decidir qual será “o próximo passo”.

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Jovens de traje académico na cerimónia de homenagem aos colegas mortos

Os estudantes da Universidade Lusófona de Lisboa que foram arrastados por uma onda na praia do Meco no passado dia 15 de Dezembro foram vistos a rastejar com pedras atadas aos tornozelos, disse ao Diário de Notícias (DN) uma vizinha da casa que os jovens tinham arrendado para passar o fim-de-semana.

A empregada de limpeza da moradia onde ficaram, Etelvina Fonseca, confirma a informação. Fátima Negrão, a mãe de um dos jovens, diz que não ficou surpreendida com a revelação. “É apenas um sinal do que já ninguém tem dúvida, de que estavam a ser praxados.” O Conselho Oficial da Praxe Académica (COPA) da Lusófona continua em silêncio.

Houve quem tivesse presenciado a cena, de jovens a rastejar com pedras atadas aos tornozelos, e quem se tivesse sentido incomodado e os tivesse alertado, contou ao DN uma vizinha, Cidália Almeida.

“Aquilo já estava a ser de mais. Duas miúdas já tinham as meias rotas. Era uma humilhação e um vizinho foi lá ter com eles. Disse que também tinha sido estudante e sugeriu-lhes que se divertissem de outra maneira.” Responderam-lhe: "Isto é uma praxe. Uma experiência de vida. Não se meta."

Cidália Almeida recorda-se de ainda ter visto um dos jovens, que seria, como a própria referiu, João Gouveia, o chefe máximo das praxes (dux), com uma colher de pau gigante na mão, um símbolo de praxe.

Etelvina Fonseca, de 67 anos, empregada de limpeza da casa que foi arrendada pelos estudantes da Lusófona, em Aiana de Cima, próximo do Meco, em Sesimbra, confirma a informação ao PÚBLICO — viu os jovens a rastejar com pedras amarradas aos pés.

Tudo isto aconteceu durante a tarde de sábado, perto da casa onde os jovens estavam a passar o fim-de-semana. Quando começou a escurecer, o grupo foi visto a dirigir-se para a praia, onde os seis jovens foram levados pelo mar. O único sobrevivente, de 23 anos, continua em silêncio.

A mãe de um dos cinco jovens que morreram na praia do Meco, Fátima Negrão, não fica surpreendida com estas informações. “Ninguém já tem dúvidas de que era praxe”, embora referindo que, aparentemente, “eles estavam bem-dispostos durante estas provas físicas”.

Os pais tinham dado um ultimato até esta quinta-feira ao COPA da Universidade Lusófona para lhes fornecer todas as informações que os ajudassem a perceber como morreram os seus filhos. O COPA manteve-se em silêncio, diz a mãe. Para sábado à tarde está agendada uma reunião onde as seis famílias vão decidir qual será “o próximo passo”.

Um inquérito ao caso foi já aberto pelas autoridades, mas deixou de estar com o Ministério Público de Sesimbra e foi avocado ao procurador-coordenador do Tribunal da Comarca de Almada, que decretou segredo de justiça.
 
 

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