Jovens portugueses no Parlamento Europeu reclamam: “Queremos escolher o nosso futuro”

Manifesto português feito nas redes sociais viajou até Bruxelas e será apresentado nesta quarta-feira em encontro que reúne 200 jovens de vários países.

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O desemprego é uma das preocupações comuns a muitos dos jovens que subscrevem o manifesto Paulo Pimenta

Foi escrito ao longo de duas semanas por jovens de todo o país que não se conheciam entre si. Comunicaram através do Facebook, partilharam ficheiros com propostas de temas e votaram cada um deles. Depois debateram frase a frase, quase palavra a palavra, escreveram e reescreveram até chegarem a uma versão final. O resultado chama-se Manifesto por um Futuro Europeu e será apresentado nesta quarta-feira no Parlamento Europeu, numa “experiência inédita de democracia deliberativa”, segundo o deputado Rui Tavares.

“Somos um grupo de jovens europeus de Portugal e, mais do que identificar problemas, queremos ver a Europa levantar-se de novo e confiar nas mãos dos seus cidadãos a responsabilidade histórica que lhes compete. Vimos comunicar que queremos e somos capazes de escolher o nosso futuro”, começam por dizer os jovens no preâmbulo do documento que será lido esta tarde, no encontro Youth in Crisis, organizado pelo grupo parlamentar dos Verdes, em Bruxelas.

Têm entre os 18 e 35 anos, são desempregados, estudantes, funcionários públicos. Há um arqueólogo, um escritor, um historiador, um “precário profissional”… Quinze dos autores deste manifesto participam no debate que hoje junta cerca de 200 jovens de seis países no Parlamento Europeu. Viajaram até Bruxelas a convite de Rui Tavares e do grupo parlamentar e um será eleito porta-voz para, esta tarde, deixar várias propostas. Como esta: que seja criada uma rede de “Universidades da União Europeia”, sediadas nos países com maior défice de qualificações, abertas a estudantes de todos os Estados-Membros e com “custos normalizados de acesso”.

Poderiam ser universidades federais, criadas de raiz, como explica o eurodeputado Rui Tavares, que garante que não teve qualquer participação na elaboração do manifesto. Numa outra versão, esta ideia também poderia concretizar-se com “um processo de certificação de universidades já existentes que pretendessem qualificar-se para ser uma universidade da União para, a partir daí, receberem os estudantes dos 28 países, com a Croácia, ou até mais”, porque, continua Rui Tavares, “um dos interesses disto tem a ver com as universidades da União servirem de pólo de atracção para pessoas do resto do mundo”.

Crise de representação

Outro ponto central no manifesto, e um dos que deu origem a mais debate no grupo de discussão no Facebook onde este foi construído, é a democracia europeia. O diagnóstico não é brilhante: os jovens descrevem a União como um espaço que “carece de legitimidade popular”, onde os mais altos dirigentes “não são escolhidos por sufrágio directo, respondendo mais aos governos de alguns países do que aos cidadãos que os deviam representar”. E pedem mudanças.

Propõem, no essencial, “a eleição directa do presidente do Conselho Europeu” e a criação de um órgão, também eleito directamente pelos cidadãos, com igualdade de representação para todos os Estados-membros, que trabalhe coordenado com o Parlamento Europeu. Uma espécie de Senado onde, de modo diferente do que se passa no Parlamento, países grandes e pequenos possam ter o mesmo número de representantes.

Que a Europa promova um combate à precariedade e ao desemprego e que dê um novo impulso à investigação é outro pedido feito no manifesto. “Se assim não for, o actual ciclo vicioso em que as economias do Sul se encontram não terá fim, com consequências extensíveis a todos os Estados-membros.”

O desemprego é uma das preocupações comuns a muitos: na população até aos 25 anos, a taxa de desemprego ultrapassa os 23% (e quase atinge os 40% em Portugal). O comissário europeu para o Emprego, László Andor, estará presente durante parte dos trabalhos do dia de hoje.

Os portugueses avançam ainda mais uma ideia: “Um banco europeu de capitais públicos de microcrédito ou de fomento, vocacionado para empréstimos de apoio à criação de novos negócios”.

Consideram ainda que “é essencial a expansão das competências e responsabilidades do Banco Central Europeu como responsável pela emissão de dívida comum a todos os Estados, bem como agente activo na eliminação de off-shores em solo europeu”.

A iniciativa Youth in Crisis partiu de um grupo de deputados europeus (três alemães, uma dinamarquesa, um espanhol, uma francesa, um grego e o português Rui Tavares, que integra, como independente, o Grupo dos Verdes). Reúne cerca de 200 participantes que, ao longo do dia, debatem propostas para a União sair da crise económica e social e para reforçar a democracia na Europa. A ideia é que no final haja um conjunto de propostas concretas.

Rui Tavares tinha como missão escolher jovens de Portugal para participar. Abriu um concurso “relâmpago”, que durou uma semana, e pediu ensaios sobre o tema. Os resultados foram conhecidos a 18 de Março. Participaram 116 jovens, com 116 ensaios. E Tavares escolheu 15 para representar o país no debate. Há dois militantes de partidos políticos, mas a maioria dos jovens do grupo nunca teve participação em qualquer organização partidária ou de outro tipo.

Os 116 foram, contudo, desafiados a participar no documento que hoje chega a Bruxelas. Cerca de 70 inscreveram-se no grupo do Facebook e cerca de 40 participaram na escrita. Foram trocados mais de 600 comentários.

O PÚBLICO viaja a convite do deputado do Parlamento Europeu Rui Tavares

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