Os jovens norte-americanos estão a voltar a acreditar que o lugar da mulher é em casa

Desde os últimos 20 anos que esta tendência de pensamento se tem vindo a consolidar. Na Europa esta propensão não se verifica.

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Mais de metade dos jovens americanos diz ser preferível que o homem ganhe e a mulher fique em casa NFACTOS/FERNANDO VELUDO/ARQUIVO

Um estudo conduzido nos Estados Unidos vem evidenciar que a atitude da geração que nasceu entre 1982 e os primeiros anos de 2000 – os millennials – tem contribuído para a discriminação de género no que toca à divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres. Os resultados deste estudo foram publicados nesta sexta-feira e estão disponíveis online.

A análise foi feita por dois investigadores – Joanna Pepin, da Universidade de Maryland e David Cotter, do Union College – que chegaram a estas conclusões tendo por base um inquérito que é aplicado a estudantes do ensino secundário norte-americano há 40 anos. Em 1994, 42% dos jovens (com idades por volta dos 18 anos) viam o homem como o “ganha-pão” e a mulher como a responsável pelas lides domésticas. Em 2014, esta fracção subiu para 58%.

Do inquérito constam perguntas sobre a forma como homens e mulheres devem ser tratados no trabalho e a forma como devem ser divididas as tarefas em casa. Em algumas destas perguntas, continua a haver uma tendência igualitária. Já noutras, “aquilo que era uma tendência rumo à igualdade começou a estagnar ou até regredir a meio dos anos 90”, lê-se no relatório.

Foram, portanto, 20 anos em que tudo parecia apontar a uma busca pela igualdade na divisão das tarefas domésticas seguidos de outros 20 em que os resultados começaram a reverter e a tornar-se mais conservadores. Isto desde que o inquérito foi criado, em meados de 1970.

“Focamo-nos nos jovens porque os seus princípios são importantes para prever tendências futuras”, lê-se no resumo do relatório, explicando a razão da amostra de respondentes.

Os investigadores consideram que cada geração se torna “mais moderna, igualitária e tolerante do que a anterior”. Ainda assim, estes resultados delineiam uma reviravolta: só 30% dos jovens discordou que era “melhor para todos os envolvidos se for o homem a ganhar fora de casa e a mulher a tratar da casa e da família”.

Num estudo distinto, realizado pela General Social Survey, estas conclusões são corroboradas: em 1994, 16% dos jovens americanos, entre os 18 e os 25 anos, acreditavam que o lugar da mulher era em casa. Em 2014, estes números tinham subido para 25%.

Contrariamente, nas questões relativas aos direitos no trabalho, os millennials acreditam que tanto homens como mulheres devem ter exactamente as mesmas oportunidades.

Perspectivas mistas numa sociedade mais igualitária

No artigo, é referido que estas conclusões são “surpreendentes”, já que seria expectável que as novas gerações fossem a favor de princípios de igualdade.

Uma das explicações avançadas é a ideia de uma perspectiva mista em que se crê que homens e mulheres devem ter as mesmas oportunidades de trabalho, acreditando simultaneamente que os homens são mais moldados para certas funções e as mulheres para outras.

Citado pelo Quartz, um sociólogo da Universidade do Utah, Dan Carlson, sugere a possibilidade de esta regressão estar relacionada com a experiência que os jovens vivem em casa, ao assistir à tentativa dos seus pais de conjugar duas carreiras sem que tenham grandes apoios financeiros. “Este recuo em valores e comportamentos igualitários é, provavelmente, um reflexo dos obstáculos que os casais enfrentam na divisão igual das responsabilidades financeiras e familiares”, diz Carlson.  

Na Europa não se assiste a esta regressão. O professor de sociologia na universidade belga de Lovaina, Jan Van Bavel, diz ao Quartz que é intrincado comparar o continente europeu aos Estados Unidos por duas razões: primeiro, porque os países europeus têm visões distintas e diferentes tipos de apoios familiares; e, por outro lado, porque os dados recolhidos sobre este assunto datam de 2004 a 2010, contrariamente aos 40 anos que podem ser analisados no caso americano. 

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