Jogo suicidário Baleia Azul chegou a Portugal. PSP deixa conselhos a pais

Em Albufeira, jovem atirou-se de um viaduto sobre a linha férrea e ficou ferida. PSP, que já teve conhecimento de outros dois casos, está atenta ao fenómeno e dá conselhos aos pais.

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Imagem da baleia azul, animal que inspira este jogo de suicídio Reuters

A participação num jogo chamado Baleia Azul estará na origem do incidente protagonizado por uma jovem que, na madrugada de quinta-feira, saltou de um viaduto para a linha férrea do Algarve, na zona das Ferreiras, em Albufeira.

A jovem, que ficou ferida, estaria a cumprir os desafios propostos pelos administradores de um jogo online, com origem na Rússia, que está a preocupar as autoridades de vários países, porque, além de incitar a actos de auto-mutilação, tem como derradeiro objectivo o suicídio dos seus jogadores, quase sempre adolescentes fragilizados por problemas como depressão e isolamento.

O caso foi contado pelo jornal Correio da Manhã na sua edição desta sexta-feira e confirmado ao PÚBLICO por António Coelho, comandante dos Bombeiros de Albufeira, a corporação que à 1h55 de quinta-feira foi chamada para prestar auxílio à jovem. Segundo o comandante dos bombeiros, a jovem atirou-se da ponte que atravessa a linha de caminho-de-ferro nas Ferreiras e “sofreu múltiplos traumatismos nos membros inferiores”, estando internada no serviço de ortopedia do hospital de Faro.

"No hospital, terá confessado que se encontrava sob grande pressão e que se atirou da ponte em situação de desespero", disse ao PÚBLICO António Coelho, relacionando esta situação com o jogo Baleia Azul.

Segundo o Jornal de Notícias, a jovem é de nacionalidade portuguesa mas descendente de ucranianos e teria a palavra “Sim” escrita com uma navalha na coxa direita e "F 57", uma das hashtags do jogo, escrita na palma da mão esquerda.

Fonte do hospital de Faro disse ao PÚBLICO que o estado da jovem é "estável": fala, reconhece pessoas e já recebeu a visita da mãe.

O jornal El Mundo, em Espanha, também notícia o caso de uma menor que deu esta sexta-feira entrada nas urgências de um hospital de Barcelona, naquele que é o primeiro caso registado na Catalunha, e que levou a Guarda Civil local a emitir um alerta para que os pais não deixem os menores sozinhos na “rede”. Numa mensagem publicada no Twitter, as autoridades espanholas admitem ter conhecimento de casos, “ainda que isolados” de jovens que praticaram actos relacionados com o jogo.

O que é o Baleia Azul?

Conhecido como Baleia Azul, o jogo inclui 50 níveis de dificuldade, o último dos quais é o suicídio dos seus jogadores. As tarefas que os seus jogadores, quase sempre adolescentes, são desafiados a cumprir começam por coisas relativamente inócuas como ouvir uma determinada música ou vídeo remetido pelos administradores, ou curadores, do jogo. Mas vão subindo de gravidade até implicarem actos de auto-mutilação como desenhar uma baleia no braço com uma navalha ou desferir golpes em determinadas partes do corpo. Os jogadores, cujo silêncio é condição para poderem continuar, são pressionados depois para, sob pena de os seus familiares serem atacados, subirem ao telhado de prédios ou permanecerem em cima de pontes ou viadutos. O desafio final, o 50.º, implica o suicídio.

Uma vez admitidos no jogo, os jovens são desafiados a superar várias etapas que podem consistir em pegar numa lâmina ou navalha e esculpirem no braço uma baleia ou uma qualquer palavra relacionada com o mamífero. O jogador tem de documentar a tarefa em fotografia ou vídeo e remeter os ficheiros ao administrador ou “curador” do jogo.

Os pedidos geralmente são feitos às 4h20 da manhã, o que ajuda a manter o secretismo, o qual é desde logo uma condição de partida para alguém ser aceite. Entre os desafios, incluem-se tarefas como “Se estás preparado para te tornar uma baleia, esculpe “SIM” na tua perna. Se não, corta-te várias vezes”, ou ainda “Acorda às 4h20 e vai para um telhado (quanto mais alto melhor)”.

Entre ameaças de ataques à família do jogador que queira abandonar o jogo, sucedem-se ordens como “Não fales com ninguém durante todo o dia”. O derradeiro desafio é algo como “O curador vai dizer-te a data da tua morte e tu tens de aceitar”.

O nome do jogo será inspirado no conhecido comportamento de arrojamento de animais marinhos, entre eles as baleias, que encalham em zonas junto à costa e acabam por morrer.

PSP atenta ao fenómeno

Recusando prestar esclarecimentos sobre este caso de Albufeira em concreto, a PSP confirmou ao PÚBLICO ter tido conhecimento de outros dois casos, um dos quais em Portalegre, e acrescentou que “tendo em conta as recentes notícias da adesão de crianças e jovens” ao jogo, está a “monitorizar o fenómeno”. De caminho, aconselha os pais a “manterem-se informados relativamente ao jogo e a alertar crianças e jovens para as suas implicações”, bem como a aumentarem a supervisão das actividades dos filhos na Internet e nas redes sociais.

“Importa ainda que os pais alertem as crianças sobre os riscos de adicionar desconhecidos e recomendem que apenas a família, amigos e pessoas da escola façam parte da lista de amizades nas redes sociais”, acrescenta ainda a PSP, para aconselhar os progenitores a dirigirem-se à esquadra mais próxima, “sempre que suspeitem que “as crianças ou jovens estejam a ser alvo de violência psicológica ou intimidação”.

O Baleia Azul começou na Rússia, no VKontakte  o equivalente nacional ao Facebook – e a polícia russa estará há vários meses a investigar a relação entre o jogo e o suicídio cometido em poucos meses por cerca de 130 adolescentes daquele país, num fenómeno que logo se espalhou aos países vizinhos. Mais recentemente, na Colômbia, a polícia terá detectado que uns 3200 jovens com perfil no Facebook terão participado no jogo.

No Brasil, o fenómeno assumiu proporções mais dramáticas, com notícias de várias dezenas de suicídios cometidos por adolescentes, em pelo menos oito estados, no âmbito da participação no jogo Baleia Azul. Aliás, a argumentista da actual novela do horário nobre da TV Globo comprometeu-se há dias a chamar o problema ao enredo da telenovela, como forma de alertar pais e adolescentes para os perigos do jogo.

Na França e em Inglaterra, as autoridades locais também já puseram a circular nas redes sociais várias mensagens de alerta para o perigo deste jogo suicidário.

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