Já se sabe

Ainda não vieram os relâmpagos e as trovoadas de Agosto mas os “já se sabes” já estão todos a acumular-se

Ainda Agosto não chegou a uma semana já aqui caiu chuva quente. Passam neblinas rapidíssimas mas está abafado. É o fenómeno mundialmente conhecido da Sintra tropical.

Se nos queixamos, a resposta é sempre a mesma: “É Agosto, já se sabe...” É este “já se sabe” que me dá o empurrão final para o precipício.

A meteorologia é notoriamente difícil. É impossível prever com certeza o que vai acontecer nas próximas 48 horas. As previsões profissionais não erram por serem mal feitas. Erram por serem apenas previsões.

Chove em Março e já se sabe, “Março marçagão: de manhã Inverno, à tarde Verão”. O facto de nunca ter havido na história da humanidade um dia de Março que tenha sido assim não impede este naco de sabedoria popular de ser propagado de geração para geração.

O “já se sabe” é o “estava-se mesmo a ver” do tempo. É como o “eu não te disse?” de quem nunca nos disse tal coisa ou o “Ah pois...” que nos acolhe quando exprimimos uma surpresa. Se as estradas estivessem cheias de sardinhas caídas do céu, estes marmanjos não pestanejariam: “Ah pois...já se sabe...É Agosto...o pessoal só quer é comer sardinha...cerveja puxa cerveja...chega-te para lá que eu também sou gente e, não tarda nada, anda tudo à porrada...”

Ainda não vieram os relâmpagos e as trovoadas de Agosto mas os “já se sabes” já estão todos a acumular-se por dentro dos lábios inferiores, prontos para serem disparados ao mínimo comentário sobre um imprevisto.

Nunca falha. Como é que se faz para não ligar?

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