Investigadores pedem imagens, vídeos e testemunhos sobre incêndio de Pedrógão

Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais foi mandatado pelo Governo para estudar o comportamento do fogo e os acidentes pessoais relacionados com o incêndio que deflagrou em Pedrógão e matou pelo menos 64 pessoas.

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Tese inicial da Judiciária apontava para descarga de raio numa árvore, num cenário de trovoada seca Adriano Miranda

Imagens, vídeos ou simples testemunhos podem ajudar a perceber como evoluiu o incêndio que começou em Pedrógão Grande, no passado dia 17 de Junho. O Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CEIF) da Universidade de Coimbra, que foi mandatado pelo Governo para analisar o comportamento do fogo e os acidentes pessoais dele resultantes, está a pedir o contributo de todos os que disponham de documentação ou que possam relatar o que se passou naquelas horas.

A ideia é fazer a reconstituição do fogo que provocou pelo menos 64 mortos. “Interessa-nos sobretudo o avanço do fogo, os acidentes mortais e o impacto nos aglomerados populacionais”, precisa o CEIF, dirigido por Xavier Viegas e que disponibilizou um endereço de correio electrónico (ceif@adai.pt) e dois números de telefone (239790732 e 239708580 ) para recolher a informação que vier a ser disponibilizada. AO PÚBLICO, este especialista em incêndios florestais disse que por enquanto “estão a ser consideradas todas as hipóteses” relativamente à origem do fogo. 

Este apelo é feito numa altura em que subsistem dúvidas quanto à forma como o fogo começou e evoluiu para os municípios vizinhos, nomeadamente Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. A tese inicial da Polícia Judiciária que apontava para uma descarga de um raio num árvore em Escalos Fundeiros, num cenário de trovoada seca, viria a ser contestada posteriormente. O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Sores, admitiu a hipótese de fogo posto, e o mais recente relatório do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) sustentou que só há 5% de probabilidade de a ignição ter sido provocada por trovoada.

Em relação ao "downburst” (vento de grande intensidade e junto ao solo que, a partir de determinado ponto, sopra em linha recta em todas as direcções), o IPMA sustentou que não foi detectado nenhum próximo do local do incêndio, sem descartar, porém, a hipótese de as correntes ascendentes terem contribuído para a agressividade do fogo.

"Situação de calor e secura extrema"

No documento enviado ao primeiro-ministro, recorde-se, o IPMA explica que o incêndio de Pedrógão "deflagrou e desenvolveu-se num quadro meteorológico caracterizado por uma situação de calor e secura extrema, instabilidade atmosférica com ocorrência de trovoadas, sem precipitação na região e rajadas intensas de vento".

Paralelamente estão em curso várias investigações à actuação das autoridades durante o fogo que se prolongou por vários dias e cuja acção no terreno foi gravemente dificultada nas primeiras horas pelas falhas na rede de comunicações de emergência SIRESP - Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal.

Xavier Viegas assevera que estão a cruzar todas as fontes e “a falar com as pessoas em cada um dos sítios” afectados. O apelo que surge agora na Internet visa colher contributos que possam ajudar os investigadores a ser tão “objectivos” quanto possível. “Nesta época de novas tecnologias, muita gente usa o telemóvel para filmar ou fotografar e, através da georreferenciação, é possível determinar a hora e o local exactos onde as coisas aconteceram”.

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