Instituto de Apoio à Criança recebe dez pedidos de ajuda por dia

Só em 2016, houve 2392 pedidos feitos "na primeira pessoa" por crianças, mais 525 do que no ano anterior.

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A grande maioria das crianças que pedem ajuda é residente no distrito de Lisboa, Setúbal ou Porto Enric Vives-Rubio

Todos os dias chegam ao Instituto de Apoio à Criança (IAC), em média, cerca de dez apelos relacionados com situações de perigo, muitos deles feitos por crianças que se sentem desamparadas e fragilizadas emocionalmente. "As crianças utilizam a linha para apresentar situações que as preocupam, que lhes causam dúvidas existenciais" e o "SOS-Criança é um dos poucos serviços que lhes dá voz na primeira pessoa", disse em entrevista à agência Lusa o secretário-geral do IAC, Manuel Coutinho.

Do outro lado da linha há uma equipa de psicólogos que diariamente ouve as suas preocupações e trabalha com elas a sua auto-estima. Só em 2016, o IAC recebeu 2392 pedidos de ajuda feitos por crianças, pais, familiares ou vizinhos, mais 525 do que no ano anterior. Segundo Manuel Coutinho, "as problemáticas" mais preocupantes são "as situações das crianças em perigo, em risco, e abusadas sexualmente, mas também das crianças que precisam só de falar com alguém".

"Hoje em dia, quando aparecem situações preocupantes de desafios online completamente perigosos e que fazem até algum terrorismo na vida das crianças temos de perceber que estes 'jogos' aparecem porque as crianças estão muito instáveis emocionalmente", frisou. Para o coordenador do SOS-Criança, é preciso "dar um suporte efectivo às crianças", conversar com elas, "fazer-lhes entender os perigos que existem no mundo e levá-las a que tenham uma boa auto-estima", para que possam ter "uma boa saúde mental".

Conversar com os filhos

"Se viverem equilibradas, se tiverem um bom autoconceito, se se sentirem amadas (...) se conseguirem partilhar os seus medos e as suas angústias, as crianças, mesmo as mais curiosas, podem ir ver estes desafios online, mas não se deixam seduzir pela prática desses perigosos desafios", frisou.

Além de conversarem com os filhos, os pais devem também ajudá-los a procurar apoio e "a saberem encontrar respostas por si só para os problemas que vão surgindo no quotidiano" e prepará-los para "os 'não' da vida". Em relação às problemáticas que chegaram ao SOS-Criança no ano passado, Manuel Coutinho apontou a negligência, ou seja, "o mau trato não intencional", como a questão mais relevante.

Por vezes, as crises económicas e sociais levam os pais a negligenciar o filho, mas "não podemos permitir que as crianças sejam o elo mais fraco de toda esta situação", disse Manuel Coutinho, adiantando que estas situações têm sido aquelas que o IAC "mais tem conseguido reparar".

Além desta questão e da "situação do falar com alguém", há também "um elevado número de situações que se prendem com os comportamentos de crianças em risco ou perigo", muitas delas associadas a situações de regulação parental. "Os pais têm de perceber, de uma vez por todas, (...) que o casal parental é para sempre" e que "têm o dever de cuidar dos filhos mesmo quando se separam". Mas isso nem sempre acontece, "o que leva a que haja muitas crianças e muitos jovens que, angustiados e complemente 'ensanduichados'" nesta guerra, "telefonem para o SOS Criança" a pedir ajuda.

Na totalidade dos apelos recebidos em 2016 na linha SOS-Criança (116.111), foram identificadas 1148 crianças, 41% das quais com idades entre os sete e os 13 anos e 28% até aos seis anos. Apesar de haver apelos provenientes de todos os distritos de Portugal, a grande maioria das crianças é residente no distrito de Lisboa (32%), Setúbal (11%) ou Porto (10%).

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