Inspectores da Judiciária suspeitos de traficar droga postos em liberdade

Prazo máximo de prisão preventiva de arguidos da Operação Aquiles está a chegar ao fim.

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Organizações criminosas ligadas ao tráfico de cocaína fazem parte deste processo bruno lisita

Dois antigos responsáveis da Polícia Judiciária e outros sete arguidos, acusados de tráfico de droga e corrupção, foram postos em liberdade esta terça-feira, por estarem a atingir o fim do prazo da prisão preventiva ou domiciliária, consoante os casos.

Entre os arguidos colocados em liberdade contam-se o ex-coordenador da Judiciária Carlos Dias Santos e o antigo inspector-chefe Ricardo Macedo.

Nove dos 29 arguidos da Operação Aquiles, no âmbito da qual foram detidos, estavam sujeitos a medidas de coacção privativas de liberdade. Um encontrava-se em prisão preventiva e os restantes oito, entre os quais Carlos Dias Santos, Ricardo Macedo e um cabo da GNR permaneciam em casa com pulseira electrónica.

Carlos Melo Alves, advogado de Carlos Dias Santos, explicou que o juiz Carlos Alexandre decretou a alteração da medida de coacção porque o tempo máximo de prisão preventiva, que neste caso é de ano e meio, será atingido a 13 de Agosto.

Como a decisão instrutória não será conhecida até lá, o juiz decidiu esta terça-feira, dia em que foi adiado pela segunda vez o início do debate instrutório no Tribunal Central de instrução Criminal, que os arguidos "fossem imediatamente" colocados em liberdade. O início do debate instrutório ficou agendado para as 10h de 1 de Setembro, no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.

A acusação revela que, em Outubro de 2006, a Judiciária já dispunha de informações que evidenciavam "fortes suspeitas" de ligações do então coordenador de investigação criminal da PJ Carlos Dias Santos, da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE), aos traficantes de droga. Elementos da Unidade de Prevenção e Apoio Tecnológico desta força policial transmitiram à sua hierarquia informações resultantes de vigilâncias e recolha de informações que "evidenciavam fortes suspeitas de ligações ao mundo do crime" por parte do colega, nomeadamente ao traficante Manuel Jorge Manero de Lemos.

Durante uma reunião que manteve com um suspeito de nacionalidade paraguaia, um agente encoberto da Judiciária ficou a saber que a organização criminosa que exportava cocaína para a empresa Terra Australis, de Torres Vedras, "tinha um informador" dentro da força policial que lhe revelava as movimentações da corporação no combate ao narcotráfico.

Também as autoridades norte-americanas informaram a Judiciária de que um dos seus elementos que colaborava com as organizações criminosas da América do Sul tinha a alcunha de "La Maquina", facto que adensou as suspeitas sobre Dias Santos por o mesmo usar muitas vezes a expressão "És uma máquina".

Segundo relata a acusação, além de darem informações às organizações criminosas que protegiam, os dois inspectores recebiam por vezes informações suas relativamente ao tráfico desenvolvido por traficantes seus rivais. Carlos Dias Santos e Ricardo Macedo "utilizavam por vezes tais informações para fazer bons serviços com apreensões de droga", ganhando prestígio junto dos seus superiores.

Frankelim Lobo, líder da organização de narcotráfico com residência em Málaga, Espanha, mas com paradeiro desconhecido, é também arguido neste processo. A polícia portuguesa dizia há uns anos tratar-se de um dos maiores traficantes europeus de cocaína.

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