Imagens chocantes

Já experimentaram assistir a um telejornal ao lado de uma criança ou de um adolescente? É uma experiência muito difícil. A televisão entra em nossas casas com imagens de guerras, catástrofes naturais, crimes violentos ou episódios tenebrosos. As boas notícias são relegadas para segundo plano, depois de estórias insignificantes das quais não se vislumbra o interesse.

É complicado explicar a uma criança a destruição do avião que se dirigia para a Malásia, abatido por razões difíceis de entender mesmo para um adulto. É muito complexo elucidar o que é a Faixa de Gaza e por que razão se vê morrer tanta gente, ao mesmo tempo que ouvimos aqueles gritos desesperados. É quase impossível explicar a inutilidade de tantos apelos de gente importante, para que a paz e a tranquilidade sejam alcançadas. Perante estas situações, costumo fechar a televisão, não sem antes ter tentado responder às perguntas que me são feitas. Mas não é fácil, o acesso à Internet está por todo o lado e será muito pior proibir o acesso à informação.

A experiência mais difícil dos últimos tempos foi com a famigerada prova dos professores. Como se tratava de algo a acontecer em escolas, duas crianças que me acompanhavam mostraram grande interesse em acompanhar o que se passava. Achei melhor não explicar, à partida, a minha posição sobre esse exame dos professores, nem perdi tempo a argumentar sobre quem teria razão. Procurei que as imagens falassem por si, diz-se que uma imagem vale mais do que mil palavras.

O resultado da observação foi interessante. Uma criança de nove anos disse não compreender como era possível professores estarem contra professores. Outro rapaz de dez anos ficou impressionado ao ver uma auxiliar no chão, no meio de “uma luta” que não entendia. Os dois riram-se por momentos do barulho feito à porta da sala da prova, mas ficaram perplexos quando lhes expliquei que eram professores que estavam contra um exame e, com o barulho, pretendiam que os colegas não conseguissem responder às perguntas. Mais tarde, disse para ouvirem o ministro da Educação e o representante do sindicato dos professores. Sobre o ministro comentaram que ele falava como se nada de grave se tivesse passado. Sobre o dirigente sindical, classificaram-no de “bué excitado”.

Expliquei depois que a prova tinha sido marcada com pouca antecedência, à socapa, para ver se não havia greve, e que muitos professores não a aceitavam. Eu próprio, expliquei então, já tinha escrito um texto em que a considerava “morta” e não percebia por que razão o ministro a queria recuperar.

Recebi uma grande lição dos dois miúdos, que disseram mais ou menos assim: “Numa escola, mesmo que seja à porta, não pode haver confusão. Todos nós dizemos piadas e às vezes portamo-nos mal, mas o que queremos é que tudo corra bem. Há professores fixes e outros chatos, mas custa ver tantos a fazer porcaria, pior do que a que nós fazemos. E não percebemos a razão do ministro não falar com eles. A culpa é dos dois lados.”

E foi assim, numa breve conversa, depois voltaram aos seus jogos electrónicos. Eu fiquei a pensar: neste conflito sem tréguas e sem respeito mútuo entre professores e ministério, a escola sai dilacerada. Transformada num campo de batalha, onde vai encontrar a tranquilidade necessária para uma boa aprendizagem de conceitos e de valores?

Felizmente, vêm aí as férias.     

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