Homossexuais desejam ser pais, mas há barreiras sociais a esse projecto

Os resultados preliminares de um inquérito realizado a cerca de 500 pessoas demonstram que “não há diferenças assinaláveis” entre os desejos parentais de lésbicas, gays e bissexuais e pessoas heterossexuais.

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Daniel Rocha

Lésbicas, gays e bissexuais (LGB) têm o mesmo desejo que heterossexuais de serem pais, mas as barreiras sociais e estruturais diminuem as intenções de avançarem com um projecto de parentalidade, conclui um estudo apresentado nesta quinta-feira em Coimbra.

Os resultados preliminares de um inquérito realizado a cerca de 500 pessoas (metade heterossexuais e metade LGB) demonstram que “não há diferenças assinaláveis” entre os desejos parentais de lésbicas, gays e bissexuais e pessoas heterossexuais, disse à agência Lusa Jorge Gato, investigador que realiza um pós-doutoramento sobre “parentalidade prospectiva” em LGB na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto.

Apesar de “todos desejarem ter filhos, verifica-se que as pessoas heterossexuais têm mais intenções de ter filhos, de concretizar o projecto”, explanou o responsável pelo estudo. “As pessoas heterossexuais têm mais intenções e pretendem mais serem pais porque para elas é mais fácil”, sublinhou, acrescentando ainda que dentro das pessoas LGB, as lésbicas “têm mais intenções de ter filhos”.

Segundo o investigador, tal constatação deve-se às “muitas barreiras quer sociais, quer estruturais” que os homens ainda têm de enfrentar.

Para além de a parentalidade ainda ser vista “como algo feminino”, os casais de homens que queiram ser pais encontram maiores dificuldades em concretizar o projecto. “A gestação de substituição não está disponível em Portugal. Já as mulheres, à partida, têm a possibilidade de engravidar”, notou, considerando que se torna “mais difícil” para casais de homens “concretizarem um projecto parental”, apesar de também estes terem manifestado no inquérito “esse desejo”.

O inquérito revela ainda que as pessoas LGB “não antecipam ter menos suporte social” quando olham para a parentalidade, mas prevêem que “vão ser mais estigmatizados como pais e mães em relação aos heterossexuais”. Esta antecipação de estigmatização surge porque estas pessoas “têm noção de que vivem num contexto ainda um pouco discriminatório”.

“É uma visão realista do contexto onde vivem e não é por isso que desejam menos ou pretendem menos ter filhos”, disse Jorge Gato.

O investigador participou numa das sessões da Conferência Internacional “Queering Parenting”, que decorre em Coimbra até sexta-feira.

O inquérito foi realizado no âmbito do pós-doutoramento do investigador, projecto financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e que conta também com recolha de dados em Inglaterra e Espanha. A idade média dos participantes no inquérito é de 29 anos e “a maioria” tem formação superior.

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