Haja troco

Aqui em Portugal não é só o troco que desaparece: as notas de 5 euros são tão raras que as pessoas que têm uma são apontadas na rua.

Antigamente não havia troco. Agora não há troco outra vez. É um dos azares de envelhecer: cada desgraça acontece enquanto ainda nos lembramos da anterior. Assim sendo não podemos ter a satisfação de uivarmos de descontentamento porque ainda temos a garganta rouca da estreia.

Sou do tempo em que, em vez de troco, davam pastilhas de mentol, bazucas e pirulitos. Agora seria ilegal, caso ainda houvesse esses special treats. No Brasil o metro de São Paulo perdeu milhões porque, não tendo troco, foi obrigado a arredondar para mais barato.

Aqui em Portugal não é só o troco que desaparece: as notas de 5 euros são tão raras que as pessoas que têm uma são apontadas na rua. Há quem tenha a lata de pedir para ver. As pessoas bem-dispostas não se importam e lá puxam da carteira para mostrá-la, perante os ais e uis da assistência.

Para pessoas que, como eu, se lembram que 5 euros são um conto de réis, é duplamente chocante. A nota de mil escudos era uma Dona Maria e era preciso ser rico para ter uma. Era gigantesca e dava para comprar uma junta de bois.

E as notas de 100, 200 e de 500 euros? Nunca mais as vi. Foram proibidas para lixar os traficantes de droga e as pessoas míticas que guardam o dinheiro nos colchões?

Na Índia há pequenos comerciantes que de bom grado trocam notas de 2000 rupias em notas de 100 rupias. Dão 19 e ficam com a vigésima como comissão. Está certo. Quando é que há o mesmo serviço em Portugal? Os bancos só não dão troco porque não podem cobrar 5 por cento pela atenção.

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