Há quem ensine os pais e os filhos a brincarem para terem sucesso no futuro

Consórcio entre ministérios, fundações e universidades levam as brincadeiras a cinco distritos do pais. Os resultados são positivos, agora só falta saber como vai continuar.

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Projecto A Par também promove a relação pais e filhos Pedro Cunha/Arquivo

Durante dez meses, duas vezes por semana, em sessões de duas horas, os bebés e as suas mães (ou pais, avós, amas… houve mesmo uma bisavó) saíam de casa e iam aprender a brincar, a socializar, a estar com outros bebés (até aos quatro anos e que não tivessem tido experiência de creche ou de pré-escolar). A experiência foi feita ao longo de dois anos e os resultados não podiam ser mais positivos. Por isso, o objectivo é dar continuidade a este projecto, embora ainda não se saiba como.

Brincar, explorar o espaço – interior e exterior –, descobrir, interagir, conversar. O projecto chama-se Grupos Aprender, Brincar, Crescer (GABC) e não é uma novidade no mundo – são os chamados playgroups –, nem sequer em Portugal – a Associação A Par promove esta relação entre os pais e os bebés, em Lisboa, desde 2008. A novidade está no facto de estes grupos terem nascido de uma parceria dos ministérios da Educação e da Segurança Social, com as fundações Gulbenkian (FCG) e Bissaya Barreto (FBB), a Universidade de Coimbra e o ISCTE, assim como com o Alto Comissariado para as Migrações, num projecto financiado pela Comissão Europeia.

Os GABC foram testados no terreno, monitorizados, avaliados e, nesta quinta-feira, elogiados pelo secretário de Estado da Educação, João Costa, na Gulbenkian, em Lisboa, durante a abertura do encontro sobre Políticas públicas para a infância: o papel da família e das comunidades. Estes grupos permitem preparar os mais novos para, no futuro, terem sucesso.

"A vida começa aos zero"

João Costa lembrou que, embora o Ministério da Educação, tenha a seu cargo a educação de infância a partir dos três anos, há uma “aposta forte” nos anos que antecedem essa idade. “Entendemos que a vida começa aos zero, quando falamos de infância, falamos dos 0 aos 6 anos e tem de ser contínua a aposta”, declarou. Também Pedro Cunha, da Direcção-Geral da Educação (DGE), elogia esta iniciativa que se trata de uma “forma inovadora de responder às necessidades das famílias”, sobretudo das mais frágeis – uma vez que os GABC chegaram a bairros e a famílias desfavorecidas, com a ajuda do programa Escolhas.

Apesar de ter chegado a famílias com pais desempregados ou que recebem subsídios, estas foram as que tiveram mais dificuldade em aderir e em manter-se no projecto, notou Joana Alexandre, do ISCTE, responsável pela monitorização. “As famílias que vão mais são as que têm mais rendimento, foram essas que se auto-propuseram para participar. As que têm menos rendimento, que são referenciadas, que têm mais apoio, são as que se interessam menos. Mas é nessas que devemos apostar em termos de estratégias”, explica a investigadora, acrescentando que as monitoras do GABC tiveram formação especifica para captação dessas famílias.

O projecto revela que, no final, as crianças e os seus cuidadores (83% das participantes eram mães) têm mais competências para escolher as brincadeiras, que a qualidade do ambiente familiar aumenta, acrescenta Clara Barata, da Universidade de Coimbra, responsável pela avaliação do projecto.

A aposta agora é na continuidade. Quando o projecto terminou, as famílias nem queriam acreditar, conta Joana Freitas Luis, coordenadora nacional dos Gabc. A educadora de infância da FBB conta que na Gafanha da Nazaré – o projecto decorreu em cinco distritos (Aveiro, Coimbra, Lisboa, Porto e Setúbal) e abrangeu 228 famílias – uma mãe decidiu abrir a sua casa para dar continuidade ao grupo. A ideia sensibilizou de tal maneira o presidente da junta de freguesia que este disponibilizou um espaço para as famílias se encontrarem.

Para Pedro Cunha, a continuidade do projecto passa pela sociedade civil, por instituições particulares de solidariedade social, associações, juntas de freguesias. O desafio é as pessoas “inspirarem-se nesta resposta para romper com a ideia fatalista de que não há nada a fazer”, defende o dirigente da DGE. E chegar a grupos e etnias “mais vulneráveis”, defende o secretário de Estado. “Esta é uma meta fundamental: ver quais são os grupos a que ainda não chegámos”, acrescenta, lembrando a importância da inclusão até para, no futuro, apostar no sucesso escolar. “As crianças mais pequenas são as que estão mais abertas à inclusão, elas oferecem-nos instrumentos para aprender com elas”, concluiu o governante na cerimónia de abertura do encontro. 

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