Há cada vez mais pessoas a trabalhar até mais tarde

Segundo as Nações Unidas, pelo menos 19 países europeus já adoptaram medidas como a penalização de reformas antecipadas e acções "contra a discriminação dos trabalhadores mais velhos" para promover o trabalho até mais tarde.

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Marcelo Rebelo de Sousa apelou aos participantes para que não dêem “muito poder a quem toma as decisões financeiras” Rui Gaudêncio

Entre 2005 e 2015 aumentou a proporção de trabalhadores com idades entre os 60 e os 64 anos que, na Europa, se mantêm no mercado de trabalho, em profissões remuneradas. Portugal não é excepção.

Segundo um relatório divulgado ontem na Conferência Ministerial sobre Envelhecimento, que está a decorrer em Lisboa e que é promovida pela Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE), a percentagem de homens entre os 60 e 64 anos naquela situação aumentou para 47,8% (era de 41,5% em 2005) e a das mulheres subiu para 34,2% (em 2005 estava nos 26,6%).

Os dados referentes a Portugal não incidem exactamente sobre a mesma faixa etária, cobrindo os trabalhadores entre os 55 e os 64 anos. A taxa de emprego neste grupo passou de 50,4% para 52%.

Na Noruega não existem “estratégias específicas para a população idosa, mas sim abordagens universais, que passam por garantir a todos o acesso aos serviços de educação e saúde”, mas no mesmo período registou-se um aumento de 60% no emprego de pessoas entre os 60 e os 64 anos, revelou Bjorn Halvorsen, conselheiro especial do Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais daquele país.

Segundo a UNECE, o aumento da presença destes trabalhadores no mercado de trabalho deve-se às estratégias entretanto adoptadas por 19 dos 45 países envolvidos e que passam tanto pela penalização de reformas antecipadas, como por medidas destinadas a facilitar o adiamento da reforma e a promover transições flexíveis entre as duas situações. E também por via de “acções contra a discriminação dos trabalhadores mais velhos e de combate a atitudes negativas em relação a estes”, especifica-se no relatório.

“A mudança fundamental tem que ver com a alteração do modo como lidamos com os idosos”, frisou, por seu lado, o director do Departamento de Qualidade de Vida e do Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), John Beard. Por exemplo, disse, “não é aceitável que os idosos sejam tratados nos lares como se fossem crianças”.

De Portugal, como exemplo de boas práticas na gestão das idades, foi apresentado o caso do Grupo Nabeiro, onde os trabalhadores têm em média 42 anos, indicou o director dos Recursos Humanos, Jorge Figueiredo. “A idade não é um factor de exclusão”, frisou, 20% dos trabalhadores do grupo (cerca de 650 pessoas) têm mais de 50 anos e 4% (mais de 130 trabalhadores) têm mais de 60.

Mas nem todos os dados são positivos. A secretária da Confederação Europeia de Sindicatos, Montserrat Roca, secretária da Confederação Europeia de Sindicatos, lembrou estatísticas recentes europeias dando conta de que “40% das pessoas em idade activa consideram que quando chegarem à idade de reforma não conseguirão desempenhar as tarefas que actualmente têm a cargo”.  

E o director do Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Stefano Scarpetta, alertou para esta situação: quando chegar à reforma, a população que está actualmente em idade de trabalho vai enfrentar uma situação de “maior desigualdade” face à geração precedente.

O apelo de Marcelo

“O mercado de trabalho está a mudar, as carreiras são mais intermitentes e por isso não permitem níveis de contribuição que seriam desejáveis”, justificou Scarpetta. O responsável da OCDE defendeu que é necessário fornecer “competências digitais mínimas às pessoas mais idosas”. Será a forma de diminuir as diferenças, no domínio das novas tecnologias, entre os mais velhos e os mais novos. Uma diferença que é maior do que aquela que separa os países neste domínio.

Na conferência participam os ministros responsáveis pela área do envelhecimento de 49 Estados, além de outras entidades. Hoje será aprovada a Declaração de Lisboa, que incluirá as listas orientadoras de actuação dos Estados-membros para os próximos cinco anos para fazer face ao crescente envelhecimento da população europeia. Actualmente, 15,4% da população da região tem mais de 65 anos. Em Portugal esta proporção é de 20%.

Falando na conferência, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que há hoje condições, com o final da crise, para que “a Declaração de Lisboa seja um pouco mais optimista” do que a estratégia definida há cinco anos pela UNECE.

O Presidente da República apelou também aos participantes para que não dêem “muito poder a quem toma as decisões financeiras”. “Eles já têm muito poder”, justificou. “Tentemos ser mais sociais”, disse, apelando aos ministros da área social para que se batam por verbas em Conselho de Ministros.

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