Governo quer dar nomes de empresas às lojas do cidadão

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Proposta estende-se à imagem e ao mobiliário das lojas Foto: Helder Olino

As lojas do cidadão poderão deixar de se chamar assim. O Governo está a estudar a hipótese de estas passarem a usar o nome de um patrocinador privado. Objectivo: encaixar alguns milhares de euros e diminuir os custos associados àqueles serviços da administração pública.

O governante adiantou que aquilo a que chamou "branding das lojas do cidadão", que na prática implicaria fundir lojas de empresa com aqueles serviços, permitiria uma poupança anual de cerca de 400 mil euros. Falando numa conferência em Lisboa sobre tecnologia e desburocratização da administração pública, Feliciano Barreiras Duarte apontou alguns exemplos para sustentar o propósito governamental. "Quem estranha que o nome do estádio mais prestigiado de futebol na cidade de Munique se chame Allianz Arena ou que a estação do metro do Chiado, em Lisboa, seja chamada PT Bluestation?", questionou citado pela agência Lusa, para acrescentar que esta criação de "sinergias" com os privados não implicaria apenas mudança no nome das lojas do cidadão, mas também "parte da sua imagem e mobiliário".

Neste cenário, a construção ou a renovação das lojas de cidadão de 2.ª geração ficariam a cargo da "entidade privada que ganhar o concurso público respeitante a cada loja". "É uma solução arrojada, mas cumpre inovar, encontrar soluções para problemas que, sob um primeiro olhar, parecem insolúveis. Cumpre hoje ao Estado actualizar as lojas do cidadão existentes, porque as de 1.ª geração têm custos assinaláveis e ineficiências injustificáveis", argumentou.

Que privados?

Pedro Dionísio, professor de Marketing do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), diz perceber a preocupação com a diminuição dos custos, mas sustenta que "as coisas têm alguns limites". "Se for sempre a mesma marca em todo o país, ou seja, se todas as lojas do cidadão passarem a chamar-se Loja do Cidadão Caixa Geral de Depósitos ou Loja do Cidadão EDP, menos mal. Se o nome mudar de loja para loja, pode dar origem a uma grande confusão e corre-se o risco de se deitar a perder a marca Loja do Cidadão", considerou.

Para este especialista em marketing, "era preferível não mexer nisso". Se o argumento é poupar dinheiro, "o Governo deve saber negociar contrapartidas, porque, neste momento, a maior parte dos centros comerciais, e mesmo dos centros das cidades, estão disponíveis para ceder espaços a preços quase simbólicos para poderem ter uma loja do cidadão que, como se sabe, atrai muita gente". De resto, Dionísio lembra que a opção por concentrar vários balcões da administração pública num só local "já traduz em si um ganho considerável em termos de custos".

Já o economista e professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) João Duque diz não ver inconveniente nenhum no propósito. "No ISEG há salas de aula patrocinadas por empresas e trata-se de uma escola pública", exemplifica. Considera que, "se a segurança das lojas do cidadão é assegurada por privados e se a limpeza é feita por privados, não há razão nenhuma para que associado ao nome da loja não surja o nome de uma empresa". Dito de outro modo, "não é propriamente o mesmo de estarmos a dizer que o Ministério da Agricultura vai passar a chamar-se Ministério Sonae". "A questão", ressalva, "está em saber se há empresas privadas interessadas nisso."

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