Frescura relativa

Tudo é relativo, abençoado seja Deus. É uma sorte poder-se escolher.

Estávamos a queixar-nos do calor quando um casal ao nosso lado nos mostrou uma fotografia de um termómetro que marcava 51 graus. Foi tirada em Mértola, às duas da tarde. Eles tinham vindo de lá para o Algarve: bastou viajar 70 quilómetros para chegar ao mar e a temperaturas nos baixos trintas. Pior do que Mértola, disseram, só a Amareleja. “Mas não é muito pior”, esclareceram.

Na sexta-feira éramos nós a fotografar o termómetro do carro. No Algarve às dez da manhã estavam 38,5 graus. Passadas três curtas horas, à uma da tarde, sempre com o sol a brilhar, tínhamos passado para os 21 graus, nas Azenhas do Mar. É uma diferença de quase 18 graus em 300 quilómetros. O ar aqui tem a temperatura da água em Tavira.

Se tivéssemos saído de Beja para as Azenhas, poderíamos ter passado de 46 graus para 21 graus em pouco mais do que 200 quilómetros. É mais do que um grau centígrado por cada dez quilómetros percorridos.

Estas viagens térmicas são espantosas num país tão pequeno. No Verão quase que podemos escolher a temperatura que queremos sentir e, se sairmos de manhã, chegar lá para almoçar cedinho.

Faz tanto sentido passar férias em sítios mais frescos, como em sítios mais quentes. Quem vai passar o mês de Agosto ao Algarve pode ganhar muito com isso, mas também perde o mês de Agosto onde vive. Será sempre boa essa perda?  Quem vai do Alentejo para o Algarve está a fugir do calorão para o calor. O Algarve também é fresquinho. Tudo é relativo, abençoado seja Deus. É uma sorte poder-se escolher. 

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