Desconhecimento dos pais sobre vida dos filhos dificulta investigação da PJ a desaparecimentos

Polícia Judiciária alerta para os perigos da falta de diálogo entre pais e filhos.

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Muitos dos casos de desaparecimento são de jovens que fogem de casa Daniel Rocha

A falta de conhecimento de muitos pais acerca da vida do filho que fugiu de casa é um entrave à investigação da Polícia Judiciária para o localizar, contou à agência Lusa a inspectora Sandra Ramos.

Muitos dos casos de desaparecimento assinalados pela Polícia Judiciária são de jovens que fogem de casa em conflito com os pais, disse a inspectora da Unidade de Informação e Investigação Criminal da PJ em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional da Criança Desaparecida (25 de maio).

Muitas destas "fugas são uma chamada de atenção das crianças para os pais", disse Sandra Ramos, alertando para a necessidade de "haver diálogo entre pais e filhos". O inspector Fernando Santos explicou, por seu turno, à Lusa que para localizar um jovem ou uma criança desaparecida é fundamental a colaboração da família, mas nem sempre isso é possível.

"Nem todos os pais sabem quem têm em casa. Esse é o grande problema, sustentou Sandra Ramos, lamentando a "falta de conhecimento dos pais face à vida dos filhos". "Nós constatamos que muitos dos pais não conhecem os amigos dos filhos, nem têm os seus contactos telefónicos. Isto é assustador" e "dificulta muito a nossa actividade", lamentou a inspectora.

Fernando Santos questionou também "como é que alguém que é responsável pela vida de um menor, não sabe os seus hábitos, não sabe para onde vai, não sabe que já anda a faltar à escola há três meses". "Isso é muito difícil para nós", lamentou o inspector.

Para Sandra Ramos, "é preocupante" esta "ausência por parte dos pais no que toca à educação dos filhos", considerando que têm metade da responsabilidade no seu desaparecimento.

Se o jovem tem "falta de afecto, de carinho e de compreensão" em casa não está bem e vai procurar isso na rua, sustentou a inspectora, defendendo que "os pais têm que fazer parte integrante da vida dos filhos".

Também há casos de crianças problemáticas, mas, em qualquer dos casos, "os pais têm de estar atentos a alguns sinais" de mudança no comportamento da criança, frisou Sandra Ramos.

Comissão de protecção de menores

Segundo Fernando Santos, há casos de jovens que fogem mais do que uma vez de casa. Quando o comportamento é repetido, a situação é reportada à comissão de protecção de menores para "iniciar um processo de encaminhamento da criança junto do tribunal, porque a mãe ou o pai não tem capacidade de gerir aquela situação", explicou o inspector.

Sandra Ramos adiantou que o caso também é encaminhado para a comissão de menores quando os jovens "têm comportamento de risco e estão em contexto de risco, sobretudo as raparigas". "Temos obrigação de comunicar esta situação à comissão, sempre em colaboração com os pais, tentando sensibilizá-los para o problema que têm", acrescentou a inspectora.

Na véspera de se assinalar o Dia Internacional da Criança Desaparecida, os inspectores voltaram a alertar para a necessidade de comunicar uma situação de desaparecimento logo que ocorra. "Para saber se é crime ou não é nas primeiras horas, não é passado três ou quatro dias", disse Sandra Ramos.

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