Exoneração é “acto de saneamento”, diz ex-director do gabinete de acidentes aéreos

Álvaro Neves avisa que vai contestar o despacho, acusa o secretário de Estado de “prepotência” e critica a ausência de quaisquer orientações da tutela ao serviço que dirigiu durante três anos.

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Enric Vives-Rubio

O director do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA), Álvaro Neves, considera que foi "saneado habilidosamente" do cargo pelo Governo e garante que vai lutar pela defesa da sua imagem e integridade profissional.

O Ministério do Planeamento e das Infra-estruturas anunciou na quinta-feira a decisão de fundir o GPIAA com o seu congénere ferroviário (GISAF) num organismo único, e a consequente exoneração do director do GPIAA "com base no desrespeito do Estatuto do Pessoal Dirigente (do Estado), nomeadamente a observação das determinações do Governo".

"Foi com estupefacção e estranheza que encarei a frieza e o desprezo do senhor secretário de Estado das Infra-estruturas, numa comunicação bizarra e surrealista, dando a entender que a solução mais óbvia seria colocar o meu lugar à disposição. Como discordei peremptoriamente, disse que, se essa era a intenção da tutela, que me apresentassem a exoneração. Estava tudo preparado para o desfecho de me sanearem habilidosamente, alegando que eu não estava alinhado com o projecto da tutela para o GPIAA", afirmou Álvaro Neves à agência Lusa.

O director do GPIAA refere que esta decisão do Governo prova que "os dirigentes jamais podem pensar pela sua própria cabeça, mas somente fazerem de conta que tudo vai bem para estarem alinhados com o poder político", e assegura que vai lutar pela reposição da verdade.

"Irei, de acordo com a lei, contestar este projecto de despacho e não permitirei que o meu trabalho de três anos seja desfeito e revertido para o ano zero novamente. As minhas convicções levam-me a seguir todas as hipóteses possíveis para a minha defesa e integridade como profissional. A minha imagem foi prejudicada com esta tomada de decisão nestes termos e lutarei pelo esclarecimento da verdade", vincou Álvaro Neves.

O responsável pelo GPIAA relata que, na reunião com o secretário de Estado Guilherme d'Oliveira Martins, a estupefacção deu depois lugar à perplexidade, quando foi confrontado com o texto da proposta de projecto de despacho para a sua exoneração. "Não deve haver nada mais inglório do que acabar três anos de sacrifício e dedicação à causa da prevenção e segurança na aviação civil num gabinete de uma secretaria de Estado de um ministério do nosso país a ser acusado de ter desrespeitado o dever de lealdade como dirigente de um organismo público", lamentou Álvaro Neves.

O director do GPIAA acusa ainda o Ministério do Planeamento, que tutela o GPIAA, de nunca ter respondido, dado instruções ou explicações ao organismo que dirige. "O silêncio foi atroz e até hoje nada me foi dado a conhecer. Não deve haver nada mais inglório do que ter de enfrentar sozinho governantes que nunca se dignaram apresentar, durante o tempo de tutela, qualquer indicação de orientação para o organismo que dirijo, sem uma única palavra de explicação, de apoio e de solidariedade de quem devia e podia, pelo menos, sobre o trabalho competente que foi desenvolvido", frisou.

Álvaro Neves considera que foi "destratado, desconsiderado, humilhado e quase coagido" a assinar a notificação de como tomou conhecimento do despacho de exoneração. "Considerei um défice democrático enorme no modo escolhido pela tutela em lidar com o processo GPIAA: com prepotência e arrogância. Considero dever-se tirar ilações políticas e, por que não?, públicas deste tipo de comportamento", defendeu o diretor do GPIAA.

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