Exames nacionais: Física volta a estar entre as mais mal classificadas, mas Português e Matemática sobem

Os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais do ensino secundário foram conhecidos nesta quinta-feira.

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Os alunos internos ficaram em terreno positivo em todas as provas miguel nogueira

O alerta já tinha sido lançado por professores do ensino secundário e confirmou-se nesta quinta-feira: a média do exame de Física e Química A do 11.º ano desceu de 11,1 para 9,9, numa escala de 0 a 20 valores. Esta disciplina volta assim a estar entre as mais mal classificadas nos exames nacionais - pior só História da Cultura e das Artes -,  que este ano se destacam também por uma subida das médias a Português e Matemática A do 12.º ano.

A média do exame de Português, que ficou marcado por uma alegada fuga de informação sobre os conteúdos, subiu de 10,8 para 11,1, apesar do texto principal proposto para interpretação ser um poema, no caso de Alberto Caeiro. E a média de Matemática A subiu de 11,2 para 11,5, não se confirmando assim neste caso o prognóstico da associação de professores da disciplina que apontou para uma provável descida de resultados.

Segundo disse então o dirigente da APM, Jaime Carvalho e Silva, o exame foi “um pouco mais difícil” do que o realizado no ano passado e tinha uma questão que podia ter sido particularmente problemática para os alunos que o fizeram: a questão 6 do último grupo, que era “totalmente abstracta”. Já a Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) considerou na altura que “o nível de complexidade global do exame foi inferior" ao de 2015/2016, uma análise que foi reafirmada nesta quinta-feira em reacção à média obtida no exame. "A subida verificada, sendo positiva, coloca-a dentro do mesmo valor estatístico do ano anterior", referiu a presidente da APM, Lurdes Figueiral. 

Feitas as contas, com a nova subida a Matemática os alunos atingiram este ano uma das suas melhores médias de sempre, mas mesmo assim bem longe dos 14 valores registados em 2008, durante a tutela de Maria de Lurdes Rodrigues, na sequência de uma prova que foi classificada como “escandalosamente fácil” pela SPM.

Uma prova "ardilosa"?

Já o alerta lançado, em Junho, nas redes sociais por um grupo de professores de Física e Química A ia no sentido contrário. Estes docentes consideraram que a prova realizada por 49.298 alunos do 11.º ano era “ardilosa” e “induz os alunos em erro”.

O exame tinha sido considerado adequado pelas sociedades portuguesas de Física e Química, mas os seus responsáveis admitiram depois uma descida da média do exame em virtude, sobretudo, de algumas novidades introduzidas no enunciado da prova. Como, por exemplo, o facto de existirem perguntas de escolha múltipla que exigiam cálculos ou ainda porque as questões relativas a Física e a Química apareciam mais misturadas do que é hábito.

Em declarações por escrito ao PÚBLICO, o secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Química, Adelino Galvão, desvalorizou a descida da média de exame por comparação a 2016, frisando que aquele “foi um ano com uma variação excepcional em relação à tendência da disciplina”. Analisando em simultâneo as médias de exames e as taxas de retenção, vê-se que o resultado de 2017 “é o segundo melhor desde 2011”, referiu ainda.

A taxa de retenção dos alunos internos a Física e Química A foi também a mais alta, passando de 11% para 14%. Segue-se Matemática A, com uma percentagem de chumbos de 13%. No ano passado estava nos 15%.

Os alunos internos são aqueles que frequentam as aulas durante todo o ano e as médias de exame aqui apontadas são as que foram obtidas por estes. Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, o Júri Nacional de Exames destaca que as médias destes estudantes nas 22 provas realizadas em Junho foram “todas superiores” a 9,5 valores, patamar a partir do qual se considera que o resultado é positivo.

A média dos alunos internos subiu também a Biologia e Geologia, passando de 10,1 para 10,3 valores. Em conjunto com Física e Química A, este exame é utilizado como prova de ingresso nos cursos de saúde que estão entre os mais disputados e durante anos os resultados permaneceram em terreno negativo. A situação inverteu-se a partir de 2016 depois de terem sido introduzidos “acertos” nos enunciados e nos critérios de classificação.

O mesmo aconteceu  com os exames de Matemática A e Física e Química A, conforme indicou então ao PÚBLICO o responsável pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave), Helder de Sousa. O Iave é o organismo responsável pela elaboração e aplicação dos exames nacionais.

“É uma média considerada manifestamente insuficiente face ao trabalho promovido por professores de alunos no ensino e aprendizagem da disciplina”, comentou João Oliveira da Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia, que chama também a atenção para o facto de se continuar “a observar percentagens inquietantes de alunos reprovados na disciplina”. Este ano foram 8%.<_o3a_p>

Apesar de a associação ter considerado a prova “globalmente adequada”, João Oliveira indica que “o recurso a termos e conceitos que extrapolam o definido nos programas gerou constrangimentos na sua resolução tendo tido impacto nos resultados”.<_o3a_p>

O caso de Português

As médias dos exames nacionais, que foram afixados nas escolas nesta quinta-feira, acabaram por ser divulgados antes que se conheça quais os resultados da investigação a uma alegada fuga de informação sobre os conteúdos da prova de Português.

O caso, que tem na base uma gravação que terá circulado dias antes da prova na rede WhatsApp, está a ser investigado pelo Ministério Público e pela Inspecção-Geral da Educação e Ciência. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, já anunciou que a prova não será anulada mesmo que se venha a confirmar que existiu uma fuga de informação.

Na gravação posta a circular, uma aluna indicava que uma explicadora aconselhara a estudar Alberto Caeiro e a treinar uma composição sobre a importância da memória. A informação revelou-se certeira.

A média de 11,1 obtida este ano pelos alunos internos a Português é uma das melhores registada nos últimos anos de exames nacionais.Para a presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, a maior "objectividade" da prova permitiu esta "ligeira descida", embora a média "continue baixinha". 

 Este resultado a Português vem contrariar uma constante registada pelo Iave nestas provas e que foi assim descrita num recente relatório: “Na disciplina de Português, no domínio da Leitura, os resultados são inferiores quando o suporte dos itens que têm como objecto de avaliação a leitura de texto literário é um texto poético ou um excerto de Os Lusíadas”.

Notícia corrigida às 16h45. Altera o título no que respeita à posição da disciplina de Física

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