Exagerar é fugir

Exagerar é procurar. Exagerar é descobrir o ponto do prazer, passando-o.

Oexagero é um caminho para o prazer que sobrevive, não obstante a péssima reputação. Em Fevereiro, por exemplo, os espargos do Peru estão óptimos e baratos e por 12 euros duas pessoas podem comer quatro molhos, cada um com 12 espargos viçosos.

É um exagero. Seis espargos bastariam. Mas 24, não sendo, de facto, quatro vezes melhor, é, irrefutavelmente, muito melhor do que apenas seis.

No Guardian aprendi que são as pessoas que bebem álcool imoderadamente que dão lucro aos produtores de bebidas alcoólicas. Se toda a gente bebesse “com moderação”, como recomendam todos os vinhateiros e destiladores, os hipócritas dos embriagadeiros não teriam dinheiro para publicar anúncios a aconselhar a moderação.

Assim como o termómetro foi combinado e medido conforme a temperatura com que a água congela e ferve (de 0 a 100 graus), o exagero é essencial para a normalidade. Tanto a 0 como a 100 graus centígrados queimamo-nos, mas ambos os exageros dão jeito para sabermos quando temos febre.

Há temperaturas muito mais frias ou quentes do que 0 e 100 graus centígrados. Essas, sim, são os verdadeiros exageros. Mas também fazem falta, para o que der e vier.

Exagerar não só é humano, como é moderadamente humano. A medida certa não existe e, caso exista, é repugnante. Nos nossos corações e nas nossas almas — exageradamente diferentes umas das outras — exagerar é o nosso movimento mais constante. Exagerar é procurar.

Exagerar é descobrir o ponto do prazer, passando-o.
 

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