Ex-agente da CIA detida pela PJ para ser extraditada

Tem uma pena de quatro anos de prisão para cumprir em Itália por ter participado no rapto e tortura de um imã que morava em Milão.

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O imã Abu Omar foi raptado e torturado por agentes da CIA Reuters/HO

A ex-agente da CIA Sabrina de Sousa, que se encontra em Portugal e foi condenada em Itália pelo rapto de um líder religioso, vai mesmo ser extraditada para aquele país para cumprir uma pena de quatro anos de cadeia. Detida esta segunda-feira à tarde pela Polícia Judiciária, a antiga agente da CIA aguardará agora a sua extradição num estabelecimento prisional. 

“Está serena e calma”, descreve o seu advogado em Portugal, Magalhães e Silva: já sabia que mais tarde ou mais cedo era isso que ia acontecer. Com dupla nacionalidade, norte-americana e portuguesa, integra um grupo de 23 americanos (22 agentes da CIA e um oficial da Força Área) e dois italianos sentenciados pela justiça pelo rapto, em 2003, de um imã egípcio que morava em Milão, Abu Omar. Foi levado para uma prisão egípcia, onde diz ter sido torturado.

Hoje com 61 anos e ainda com familiares em Lisboa, onde mora desde 2015, Sabrina de Sousa nega ter estado envolvida no rapto. E apelou no mês passado para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, numa derradeira tentativa de evitar a extradição, para que a sua ida para Itália fosse suspensa até os juízes verificarem se Portugal garantiu se todos os seus direitos defesa serão ser respeitados com a sua entrega às autoridades italianas. Mas o magistrado de turno que analisou o pedido recusou-o.

"Itália comporta-se como um Estado pária"

Magalhães e Silva explica que a autorização de extradição confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça se baseia no pressuposto de que a antiga agente secreta podia vir a ter direito a um novo julgamento em Itália, uma vez que é isso que consta do seu mandado de detenção europeu. “Mas o Ministério da Justiça italiano veio entretanto dizer que afinal não terá direito nem a novo julgamento nem a recorrer do primeiro, por ter sido inicialmente representada por um advogado oficioso”, indigna-se Magalhães e Silva. “Itália está a comportar-se como um Estado pária.”

Se vai mesmo ter de cumprir cadeia ou se poderá beneficiar de algum tipo de atenuante, nomeadamente por se tratar de uma pena relativamente pequena e por já ter 61 anos, é algo que o advogado ignora. A condenação inicial era de sete anos, mas um perdão presidencial reduziu-a a quatro, conta Magalhães e Silva, que tem grandes dúvidas sobre a isenção com que a antiga espia foi tratada pela justiça italiana: “Um dos fundamentos da condenação foi o registo de duas chamadas de outros agentes para ela, uma de 17 segundos e outra de 14. O tribunal entendeu que pode ter sido para falar de questões de trabalho - mas que também pode ter sido para combinarem o rapto.”

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