Espremido dá isto

Imagine o leitor que está perdido algures nas margens do Zêzere. Durante uma semana só se consegue alimentar à base de raízes, folhas e frutos, que espreme, para depois beber a zurrapa. Em que é que está a pensar? Das duas, uma. Ou: “Quando é que a equipa de buscas me vem salvar?” Ou: “Quem me dera que esta revigorante semana de juicing nunca mais acabasse!”

É que pode perfeitamente estar a passar uma semana no Juicy Oasis Boutique Health Retreat & Spa, um hotel na Sertã onde a única comida é sumo, passe o paradoxo.

Durante sete dias, os hóspedes praticam desporto, fazem ioga, dão passeios no campo e, depois de um dia em cheio, sentam-se à mesa para desfrutar de um suculento e opíparo copo de sumo de beterraba, agrião, tomilho e talos de vária espécie. Quer dizer, às vezes, não chegam a sentar-se à mesa. Entre o balcão dos sumos e a mesa, já escorripicharam tudo até à última gota.

Milagrosamente, ao fim de uma semana sem comer, as pessoas perdem peso. A evolução das dietas apontava para aqui. Começou por retirar-se as sobremesas. Depois, o pão à mesa. Depois, os acompanhamentos. Finalmente, retira-se o resto. Fica o refresco.

(Admito que já participei num programa destes. Durante uma semana, à beira de outro rio português, alimentei-me apenas de sumo feito a partir de frutos da região. Também perdi peso. E meio fígado. Aliás, ainda tenho o nariz encarnado.)

A moda dos programas de culinária, dos chefs vedeta e das comidas gourmet havia de dar nisto. Como reacção às receitas cada vez mais sofisticadas, aparecem as receitas em que os ingredientes são esmagados e, pronto!, já está.

O objectivo não é o mero emagrecimento. É também a desintoxicação: o nosso corpo está intoxicado por toxinas que andam nas cidades tóxicas onde moramos, nos alimentos tóxicos que consumimos e no estilo de vida tóxico que vivemos na tóxica sociedade ocidental. Segundo Jason Vale, o dono do hotel e Mestre Sumeiro, uma semana a beber sumos limpa-nos o sistema da porcaria toda.

Mas será que é suficiente? Creio que não. As toxinas não estão só nos alimentos que consumimos. Também estão no ar que respiramos. É por isso que vou abrir brevemente o No Breathing Oasis Boutique Health Retreat & Spa.

Como o Juicy, o No Breathing também é Oasis (na medida em que um oásis, muitas vezes, é só uma miragem), Boutique (pois vai ser caro), Health (já que é preciso ter saúde para começar o tratamento), Retreat (porque vai haver ioga) e Spa (porque terá cremes para barrar no corpo). Só que o No Breathing vai um passo à frente. Para a desintoxicação ser o mais completa possível, os hóspedes não só não ingerem qualquer tipo de alimento, como não podem respirar durante a estadia. Ao fim de uma semana, garanto que estarão com outra cara.

A princípio vai custar um bocadinho. Até porque o staff do hotel estará a respirar, o que poderá causar alguma inveja no resto dos hóspedes. Mas vão habituar-se. Afinal, isto é para o bem deles. O nosso sistema respiratório está cheio de impurezas e há que eliminá-las. Estou já a preparar o programa da estadia. Logo no primeiro dia, para os participantes se conhecerem uns aos outros, vou organizar um jogo de vólei. Exercício físico intenso, sem respirar. Se isto não fizer um reset ao corpo, não sei o que fará. E não vai custar os mil euros que cobra o Juicy. Até porque não conto hospedar ninguém por mais de uma noite.     

Sugerir correcção
Comentar