Especialista em gripe das aves é a nova directora-geral da OMS

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Margaret Chan é chinesa Laurent Gillieron/EPA

Na escolha para a sua liderança, a Organização Mundial de Saúde (OMS) preferiu jogar pelo seguro. A chinesa Margaret Chan, funcionária de topo na casa onde há dois anos era responsável pelo combate à gripe das aves, foi ontem escolhida pelo conselho executivo para dirigir os destinos da organização.

Se a escolha for ratificada hoje pela assembleia (que integra os 193 membros da OMS), será a primeira vez que a China ocupa um cargo de responsabilidade num dos mais importantes organismos das Nações Unidas. A selecção parece garantida: a assembleia nunca rejeitou um candidato escolhido pelos 34 membros do conselho executivo.

Aos 59 anos, esta mulher nascida em Hong Kong e que foi professora antes de ter optado pela Medicina - tirou o curso no Canadá, onde foi juntar-se ao marido, que é médico -, era, à partida, a candidata mais bem posicionada para lidar com um dos principais desafios da actualidade: a ameaça de uma pandemia de gripe.

Especialista em saúde materna e infantil, Chan foi pioneira na luta contra o temido vírus H5N1 da gripe das aves e também contra a pneumonia atípica, durante os nove anos em que esteve à frente da Direcção-Geral de Saúde de Hong Kong. E ficou conhecida a nível internacional depois de ter mandado exterminar 1,5 milhões de aves em apenas três dias, em 1997. Tudo para poder travar o primeiro surto da doença, que causou então a morte a seis pessoas.

Cinco anos mais tarde voltou a destacar-se no desenvolvimento do plano de combate à pneunomia atípica, que provocou perto de três centenas de mortes em todo o mundo, mas não escapou a críticas por não ter conseguido obter informação mais rápida da China continental, onde o surto teve início.

Várias vezes convidada para trabalhar na OMS, em 2003 aceitou finalmente o desafio e mudou-se para a sede da organização, em Genebra (Suíça), onde se tornaria responsável, dois anos depois, pelo combate à gripe das aves.

Ontem, o secretário de Estado da Saúde norte-americano, Mike Leavitt, disse acreditar que Chan vai ser "uma líder forte", até porque tem "provas dadas", mas o editor da prestigiada revista científica Lancet mostrou-se mais reservado. "Apesar de Margaret Chan ter grandes aptidões nalgumas áreas, como as doenças contagiosas, não é muito experiente noutras", afirmou Richard Horton à Associated Press.

Relações com a China

Chegar até aqui não se revelou fácil: Chan concorreu com outras dez personalidades, entre os quais figuravam o ex-Presidente de Moçambique Pascol Mocumbi, o fundador da organização Médicos sem Fronteiras, o francês Bernard Kouchner, e a ministra da Saúde espanhola, Elena Salgado. Depois de passar por várias fases eliminatórias, acabou por ser seleccionada por 24 votos, contra os dez obtidos pelo candidato do México, Julio Frenk.

Chan vai ocupar o cargo deixado vago por Lee Jong-Wook, que em Maio sucumbiu a uma embolia cerebral durante uma reunião de trabalho. Tinha 61 anos.

Segundo o jornal New York Times, que a entrevistou recentemente, Margaret Chan goza de "excelente saúde", tem um filho advogado e só não se tornou pediatra porque na altura em que regressou a Hong Kong não havia vagas para esta especialidade. Uma circunstância que terá condicionado o seu futuro: para além do curso de Medicina tirado na University of Western Ontario (Canadá), estudou na National University de Singapura e frequentou ainda um curso de gestão na Harvard Business School.

Os seus apoiantes defenderam, desde o início da candidatura, que a sua eleição poderia servir para estreitar as relações entre a OMS e a China - que tem sido acusada de lentidão a divulgar informação sobre casos de gripe das aves.

Como líder da OMS, porém, Chan vai ter de enfrentar outros desafios: é preciso concluir a erradicação da poliomelite, aumentar os cuidados para os doentes com HIV e melhorar o acesso dos países pobres a fármacos essenciais.

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