Dos alunos com mães sem habilitações só 8% têm percurso de sucesso

Análise ao 2.º ciclo do ensino básico confirma que correlação entre nível socioeconómico das famílias e o desempenho escolar dos filhos “é muito forte”. Mas o “dinamismo da escola e dos professores” pode superar esse factor.

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Um aluno com “percurso de sucesso” no 2.º ciclo (5.º e 6.º anos de escolaridade) é um aluno que obteve positiva nas duas provas finais do 6.º ano de 2014/15 (Português e Matemática), após um percurso sem retenções no 5.º ano PAULO RICCA / PUBLICO

O ponto de partida era perceber até que ponto as desigualdades socioeconómicas das famílias se reproduzem no desempenho escolar dos filhos. E os resultados de uma nova análise confirmam aquilo que já vinha sendo apontado em estudos anteriores: em Portugal há uma relação “muito forte” entre o desempenho escolar dos alunos e o meio socioeconómico dos agregados familiares, aponta a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), do Ministério da Educação.

Entre os alunos cujas mães têm licenciatura ou bacharelato, a percentagem de “percursos de sucesso” no 2.º ciclo do ensino básico é de 80%. Já entre os alunos cujas mães têm habilitação escolar mais baixa, equivalente ao 4.º ano, a percentagem baixa para os 26%, quantifica o estudo Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares – 2.º ciclo do ensino público geral.

As discrepâncias são ainda mais evidentes quando se compara o percurso dos alunos cujas mães não possuem qualquer habilitação com o percurso daqueles cujas mães têm mestrado ou doutoramento: a diferença vai dos 8% aos 83%.

Por definição, segundo o Ministério da Educação, um aluno com “percurso de sucesso” no 2.º ciclo (5.º e 6.º anos de escolaridade) é um aluno que obteve positiva nas duas provas finais do 6.º ano de 2014/15 (Português e Matemática), após um percurso sem retenções no 5.º ano.

Este documento vem dar seguimento a uma análise semelhante, divulgada em Fevereiro, mas que incidia sobre o 3.º ciclo do ensino básico. Neste nível escolar, as disparidades no desempenho escolar das crianças eram mais agudas. A taxa de “percursos de sucesso” entre os alunos com mães detentoras de uma licenciatura ou bacharelato era de 71%, contra uma percentagem de apenas 19% no caso de alunos cujas mães tinham habilitação escolar equivalente ao 4.º ano.

“Não é destino”

Apesar destas conclusões, de resto, já corroboradas por outros estudos, a DGEEC sustenta que o “nível socioeconómico não equivale a destino”, ou seja, “não determina de forma inapelável o desempenho escolar dos alunos”.

E aponta como argumento o facto de as crianças de algumas regiões do país com indicadores socioeconómicos desfavoráveis, como Braga ou Viseu, terem, apesar disso, indicadores de desempenho no 2.º ciclo “francamente superiores” à média nacional. O estudo compara os alunos do distrito de Braga, cujas mães têm habilitações equivalentes ao 6.º ano, com os alunos de Setúbal, com mães que têm o 12.º ano completo, e conclui que os primeiros têm um desempenho escolar superior.

Importa assim investigar “localmente e de forma aprofundada” que outros factores entram em jogo, além do socioeconómico, sugerem os autores, para admitirem que factores como “o dinamismo da escola e dos seus professores” ou “o grau de importância atribuído ao ensino das crianças e ao trabalho escolar na cultura” de cada região poderão “compensar e até superar os efeitos do nível socioeconómico” dos agregados familiares.

Em comunicado, nesta quarta-feira, o Ministério da Educação sublinha que estes resultados "obrigam a que se continue a centrar a acção naquela que constitui uma das funções primordiais da escola pública: o nivelamento de oportunidades entre crianças oriundas de diversos meios socioeconómicos e a promoção da mobilidade social".

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