Em Cuba há um turismo médico para reabilitação motora

Nos anos a seguir à sua abertura, este centro de reabilitação acolheu celebridades como o ex-futebolista argentino Diego Maradona. Mas os seus responsáveis admitem uma quebra de clientes nos últimos três anos e andam à procura de mais receitas. Por isso, abriram a porta a jornalistas estrangeiros.

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Doente a ser tratado no Centro Internacional de Reabilitação Neurológica (Ciren), em Havana. AFP/ADALBERTO ROQUE
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Num complexo da década de 1950, localizado num bairro abonado de Havana, o reformado angolano Licínio Tavares esforça-se por tentar recuperar um pouco da sua motricidade, graças aos cuidados alternativos prestados no Ciren, um centro de ponta reservado a estrangeiros.

“Direita! Esquerda!”. Alongado de costas num ginásio, este hemiplégico de 78 anos esforça-se por tentar mexer as suas pernas, dobrando-as de um lado e depois do outro, sob a pressão dos braços musculados de um jovem treinador.

Aberto há 27 anos, o Centro Internacional de Reabilitação Neurológica  (Ciren) é um dos projectos de medicina cubana desenvolvida para doentes estrangeiros, numa ilha que foi conquistando a reputação de qualidade dos seus profissionais de saúde.

Embora algo envelhecido, o ambiente não tem comparação com os hospitais cubanos tradicionais, conhecidos por serem gratuitos, mas tendo grandes dificuldades materiais.

No Ciren há equipamentos ultra-modernos, climatização, parque verdejante, piscina exterior, restaurante com buffet, pessoal experimentado, composto sobretudo de ex-desportistas de alto nível. As instalações são em Siboney (zona oeste de Havana), bem afastadas do bulício do centro da cidade.

Nos anos a seguir à sua abertura, o Ciren acolheu numerosos dirigentes e celebridades latino-americanas como o ex-futebolista argentino Diego Maradona ou o ex-presidente mexicano Vicente Fox.

Mas os seus responsáveis admitem uma quebra de clientes nos últimos três anos, que atribuem à crise internacional e às obras no recinto. Com uma capacidade para 90 pessoas não tem mais de 34 neste final de Setembro.

Para tentar contrariar a tendência, a direcção da unidade tem em curso uma estratégia: ofensiva nas redes sociais, remodelação do site, que estava obsoleto, conquista de novos doentes através de parcerias com agências estrangeiras e – grande novidade – abertura das portas aos jornalistas estrangeiros. Porque a vocação do Ciren é gerar receitas, tal como outros institutos de cuidados oftalmológicos que atraem estrangeiros à ilha.

“O nosso programa é capaz de estudar os problemas de saúde, as suas causas e os seus efeitos a partir da neurociência, passando pela parte clínica até à parte cirúrgica e de reabilitação”, explica à AFP o médico Alba Elisa Perez, director do dentro.

Vindos de várias partes do mundo, os doentes chegam sobretudo da América latina. Sofrem de doenças como Alzheimer, Parkinson, ataxia (descoordenação patológica dos movimentos do corpo), e mais genericamente de patologias neurodegenerativas. São alojados com os seus acompanhantes, de presença obrigatória, em acolhedoras vivendas com jardim.

Vítima há quatro anos de uma paralisia completa do lado esquerdo do corpo, na sequência de um AVC, Licínio está pela terceira vez no Ciren.

“Este tratamento é muito especial, organizado, muito intenso, dá resultados inesperados: consigo andar com a ajuda de uma bengala, mexo-me melhor, com mais amplitude, consigo mexer as mães, os dedos, consigo comer”, detalha o antigo engenheiro.

No passado, Licínio já tinha estado num outro prestigiado estabelecimento sueco e afirma que no Ciren “o tratamento é mais completo”.

O método usado associa medicinas tradicionais e alternativas para ajudar os doentes a recuperar as suas capacidades cognitivas e motoras. E a intensidade é bem superior à média.

“No Chile não há remédio, aqui há!”, diz com dificuldade a sexagenária chilena Virginia, que sofre de uma doença neuromuscular

Luisa Villafañe, argentina de 72 anos, acaricia delicadamente a mão do seu filho Alexandro, de 27 anos, vítima de uma doença neurodegenerativa grave e tetraplégico desde 2009. “Na Argentina, consultámos reputados neurologistas que nunca souberam diagnosticar o que lhe aconteceu”, assegura.

Diz-se muito impressionada pelo exército de especialistas que se sucedem à cabeceira de Alejandro na sessão matinal.
As 35 horas de cuidados são facturadas a cerca de 12.900 dólares para os que vêm de países "amigos", latino-americanos, asiáticos e africanos. Para os outros, é cobrado mais mil euros. Somas avultadas, mas que são, por norma, bastante mais baixas que as tarifas praticadas na Europa ou na América do Norte, onde uma sessão de recuperação neurológica de uma hora pode chegar a custar 200 dólares.

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