Educação para uma nova era

O fim do modelo de competição será o início da interacção e cooperação entre todos.

Depois dos momentos conturbados marcados pela polémica das escolas públicas e do ensino privado, o início deste ano escolar parece-nos bem mais calmo. Contudo, seja o ensino público ou privado, os problemas de fundo persistem. Que tipo de educação promover? Que métodos de avaliação devem ser aplicados? Com notas, sem notas, com mais dinâmicas de grupo, que contributo pretendemos nós que os jovens venham a dar para a nossa sociedade no futuro?Qualquer processo educacional é um condicionamento. Contudo, existem bons e maus condicionamentos; e o processo em que estamos a viver, é muito mau. Em termos neurotopográficos está propositadamente direccionado para o hemisfério esquerdo em detrimento do direito. Esta circunstância será fruto do carácter funcional da sociedade cartesiana em que vivemos. O desejável seria que ambos os hemisférios funcionassem em equilíbrio e harmonia entre si. Criámos uma sociedade na qual o que prevalece como mais importante é a replicação mecanicista de modelos. O ensino actual não promove o saber pensar, mas sim a multiplicação de conhecimentos. O que estamos a fazer é a produzir salsichas educacionais, logo não nos devemos admirar de que o modelo esteja em processo autofágico, ou seja, esgotando-se em si mesmo.

O Processo Educativo é muito mais do que exercício e treino da memória. Mais que informar uma criança ou um jovem acerca do feitos grandiosos dos povos – o que, por sinal, se apresenta quase sempre sem o concomitante contraditório – corresponde a um discurso impreciso, enaltecendo tendenciosamente grandes feitos históricos que muitas vezes não passaram de conquistas pela força e cruéis humilhações, reivindicando para os territórios conquistados a cultura do vencedor. O que deveria ser transmitido isso sim, era a história factual, para evitar que erros e dramáticos equívocos se repitam no futuro. O passado deve ser estudado e compreendido na perspectiva de uma frutífera renovação futura. A Educação é mais do que investigação e formulações conclusivas sobre variados assuntos; e também mais que mera preparação formatada de crianças e/ou adultos para se enquadrarem como “melhores” cidadãos, “melhores” técnicos e “melhores” empresários. Podemos então considerar a Educação como não esgotada neste ângulo pré-formatado. Devemos velar por uma maior amplitude de objectivos, possibilitando um mais enriquecedor sentido humanístico e existencial para a Vida. Munido de uma maior capacidade crítica desdogmatizada, o indivíduo participará mais activamente nos processos social, cultural, produtivo, etc. Daqui o considerarmos ser muito importante a inclusão, ou seja, um status em que ninguém fique para trás em oportunidades valorativas, ao invés do que frequentemente tem vindo a acontecer até ao presente.

Dizer liminarmente que todos somos “iguais” pode ser politicamente correcto, mas tal não corresponderá rigorosamente à situação factual, porquanto cada indivíduo, como é lugar comum dizer-se, é um particular universo subjectivo em si, com discriminados interesses e horizontes de realização criativa. E isto releva extraordinariamente face à necessidade de uma renovação de conceitos e abordagens práticas nos âmbitos supracitados. Uniformizar o que não é uniformizável resulta naquilo que temos entre mãos, ou seja, nesta sociedade convulsiva. Assim, o que nos parece prioritário é promover a excelência na diferença, pois nessa diferença assumida teremos todos algum valor a acrescentar ao processo humano colectivo.

Um sistema de ensino que promove a competição em detrimento da cooperação condiciona emocionalmente a criança, impondo-lhe a lei do mais forte, conduzindo a Sociedade a desequilíbrios extremamente acentuados. Assim sendo, acreditamos que o mundo da competição selvagem tem os dias contados. Ninguém é de ninguém, mas na verdade, somos todos uns dos outros.

Psicólogo

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