É “obrigação da ciência” explicar os milagres

"Eu não sou religioso, mas procuro perceber as coisas com base na minha experiência e naquilo que a ciência esclarece. Agora, tenho a convicção firme de que isto não é cinza, pó e nada", diz Luís Portela, o médico que ficou à frente da Bial aos 27 anos.

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Nelson Garrido

Um “espiritualista assumido”, Luís Portela, chairman da farmacêutica Bial, recorda com nostalgia os tempos em que dava aulas de psicofisiologia e defende que a ciência tem a obrigação de esclarecer a humanidade sobre alguns milagres.

Começou a dirigir a Bial muito cedo.
O meu pai morreu quando eu tinha 21 anos e eu estive na empresa durante alguns anos a trabalhar sob a orientação de outra pessoa. Fiquei à frente da Bial com 27 anos. Depois do 25 de Abril [de 1974], tentei vender a minha posição. Na altura, trabalhava no Hospital de S. João e era docente de psicofisiologia. Ganhei uma bolsa para Cambridge para fazer o doutoramento na área da psicofisiologia, mas resolvi largar a carreira e dediquei-me à empresa. Foi uma opção. Sempre tive a nostalgia de não ter tido possibilidade de lidar com doentes e de dar aulas, mas fui feliz naquilo que fiz.

Como é que um homem da ciência acredita na vida para além da morte?
Sou um espiritualista assumido. Quando era jovem, sempre achei estranho que a humanidade, sob ponto de vista da fé, acreditasse em tudo, milagres, mistérios, bolas de cristal, cartas, e essa mesma humanidade, sob o ponto de vista da ciência, dissesse que [estes fenómenos] não existem. A obrigação da ciência é investigar [tudo isto] de uma forma séria e rigorosa, procurando descobrir o que é verdade e mentira. Muitas das coisas anunciadas são fantasias, precisam de ser esclarecidas. Mas muita da investigação feita — e eu tenho lido muito — faz-me pensar que há determinado tipo de energias que não são conhecidas e que devem ser conhecidas para a humanidade viver melhor e desenvolver todo o seu potencial. A melhor investigação em parapsicologia é hoje multidisciplinar. Há muitos físicos, matemáticos, médicos que constituem equipas para fazer investigação nesta área.

Quando era mais novo, chegou a pensar vir a ser monge no Tibete?
Sim, em jovem admiti que gostaria muito de me conhecer melhor e uma forma de o conseguir era a meditação. Depois, pensei que pode ser muito bonito um indivíduo ir para o Tibete, mas ainda mais bonito é estar neste mundo-escola, a tentar fazer um caminho de pureza. Deixei de pensar em ir para o Tibete, de ser monge. Não foi possível, pronto, paciência. 

Será possível que a ciência explique os milagres?
Mais do que possível, acho que é [isso] é obrigação da ciência, que deve esclarecer a humanidade. Quando não investiu apropriadamente, a ciência permitiu a entrada do misticismo, do charlatanismo, do negócio. Eu não sou religioso, mas procuro perceber as coisas com base na minha experiência e naquilo que a ciência esclarece. Agora, tenho a convicção firme de que isto não é cinza, pó e nada.

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