Dois linces ibéricos já moram em Mértola

Primeiro o macho, depois a fêmea, em segundos o pioneiro casal de linces ibéricos criados em cativeiro a serem libertados em Portugal conheceu esta terça-feira a sua nova morada.

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Katmandu e Jacarandá encontraram-se pouco antes da largada João Silva
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Linces foram introduzidos no cercado de Mértola a 16 de Dezembro. Estiveram lá um mês e meio João Silva
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Eram cerca de 15h30 quando as portinholas das caixas que os abrigaram no transporte foram abertas, pela mão inevitável de dois governantes vindos de Lisboa. E os linces, um de cada vez, correram a procurar refúgio na vegetação arbustiva de um cercado, numa área com cerca de dois hectares numa zona de caça em Mértola.

São dois de um total de dez linces que serão soltos nos próximos oitos meses no país, num programa conjunto com Espanha para reforçar a população do felino mais ameaçado de extinção em todo o mundo. Dezenas de linces já foram libertados em Espanha. Em Portugal, é a primeira vez que isto acontece.

Quem agora circular pela Estrada Nacional 267, entre Almodôvar e Mértola, saberá que ali há bichos diferentes. No quilómetro 118 vê-se o primeiro sinal de trânsito criado agora para assinalar, com a face de um lince, a presença de animais selvagens. Serão oito no total na zona.

O cercado dos linces fica ou pouco mais adiante, perto da localidade de Romeiras. Está dentro de uma grande propriedade cinegética, onde se caçam veados e javalis.

Katmandu e Jacarandá encontraram-se pouco antes da largada. O primeiro saíra às 9h30 da manhã do centro de reprodução de Zarza de Granadilla, perto de Plasencia, em Espanha. Jacarandá é portuguesa e nasceu no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves, de onde partira também de manhã.

Puseram-se lado a lado, mas sem se verem, do lado exterior do cercado – ele numa carrinha Peugeot com matrícula espanhola, ela numa carrinha Nissan portuguesa –, enquanto se esperava pela comitiva que iria testemunhar a sua soltura.

Era um pequeno batalhão de políticos, técnicos, ambientalistas, jornalistas e também caçadores. Perante tal movimentação, seria de supor que os bichos se pudessem ressentir. “É um stress pontual. Eles saem e correm logo. Não é preocupante”, garantia, contudo, a veterinária espanhola Victoria Asensio, que acompanhou Katmandu na viagem.

Dentro do cercado, os linces têm tudo de que precisam no imediato. Uma parte da área está coberta com vegetação arbustiva, onde os animais se escondem. Há também uma zona aberta, onde se espera que os coelhos venham almoçar, para serem caçados pelos linces. “Já pusemos lá 30 coelhos e dentro de 15 dias iremos fazer um reforço”, explica Carlos Carrapato, biólogo do Parque Natural do Vale do Guadiana.

A abundância de coelhos bravos – o principal alimento do lince ibérico – é o aspecto determinante para o sucesso do programa de reintrodução da espécie. Se não houver em número suficiente, os linces procurarão outras áreas, podendo ir para Espanha ou então aproximar-se das estradas. É esta uma das razões para a mortalidade dos linces por atropelamento em Espanha. Só este ano, morreram 20. “Se não há coelho num sítio, o lince vai à procura noutro”, diz Miguel Simón, director do projecto luso-espanhol Iberlince, para a reintrodução da espécie na Península Ibérica.

Os linces de Mértola puderam ser vistos apenas por alguns segundos. Quando o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, abriu a primeira portinhola, um deles zarpou imediatamente para as estevas, misturando-se com elas e desaparecendo de vista. O segundo ainda vacilou por um instante, deu alguns passos tentativos e, perante fotógrafos e operadores de imagem, acabou por sair também em disparada para a mata. Se tudo correr bem, no final de Janeiro as portas do cercado serão abertas e os linces estarão completamente livres na natureza.

“Foram precisos 20 anos de trabalho para se chegar aqui”, disse Jorge Moreira da Silva, subitamente emocionado. Enquanto o ministro falava para os jornalistas, os técnicos do centro de reprodução de linces de Silves abraçavam-se efusivamente. Nos últimos anos, o centro cedeu vários animais para serem libertados em Espanha. Agora, era a vez de Portugal.

 “A reprodução em cativeiro nestes cinco anos foi importante para que as pessoas não desistissem do lince ibérico”, disse Rodrigo Serra, director do centro, enquanto pedia para os jornalistas remanescentes se afastarem do cercado dos linces. “Parece tudo calmo. Mas a verdadeira batalha começa agora”. 

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