Doenças transmitidas pelos alimentos estão por conhecer

Investigadora Sara Monteiro Pires foi uma das que participaram em relatório da OMS que diz que uma em cada dez pessoas adoecem todos os anos devido a alimentos contaminados. E que os países devem fazer mais para conhecer o problema.

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Em Portugal, segundo Sara Monteiro Pires, a salmonelose permanece no topo dos casos reportados Fabio Augusto

Em Portugal são conhecidos anualmente cerca de 200 casos de infecção transmitida por alimentos infectados com a bactéria salmonella que, por norma, dá origem a gastrenterites. Mas este é um número que, tal como acontece noutros países, está longe de retratar a realidade, constata a investigadora Sara Monteiro Pires, que alerta para a necessidade de cada país, incluindo Portugal, estudar a carga real das doenças transmitidas pelos alimentos.

Quando se fala de problemas de saúde mundial é natural que patologias que, nos países desenvolvidos, são sobretudo conhecidas por apenas estarem na origem de gastrenterites (cujos sintomas típicos costumam ser diarreia e vómitos), não ocupem o mesmo peso nas preocupações dos decisores do que doenças como o HIV/Sida ou o cancro. Só que, ao contrário destas, “as doenças transmitidas pelos alimentos são evitáveis”, sublinha a investigadora portuguesa, que trabalha no Instituto Nacional de Alimentação, da Universidade Técnica da Dinamarca, e que falou sobre este problema na Conferência do Prado ao Prato – Informar para viver melhor, nesta quinta-feira em Lisboa.

Primeiro é preciso conhecer o peso real destas patologias, sublinha Sara Monteiro Pires. Foi o que fez a Organização Mundial de Saúde (OMS) num relatório global, publicado no ano passado. O documento conclui que uma em cada dez pessoas adoecem todos os anos devido a alimentos contaminados, que são causa de 420.000 mortes por ano e que um terço destas acontece em crianças com idade inferior a 5 anos. A região Africana e do sudeste asiático concentram as situações mais graves. Há 31 agentes que causaram 33 milhões de anos de vida perdidos globalmente, lembra esta investigadora portuguesa, que fez parte do grupo de cerca de 100 peritos que elaborou o relatório global.

As situações são muito diferentes consoante a parte do mundo, mas as bactérias salmonella (animais de consumo, ovos e vegetais podem ser fonte de transmissão) e a campyplobacter (transmitida sobretudo por frangos ou porcos) estão no topo do ranking mundial. Motivo de preocupação é também o norovírus, que está na origem de gastrenterites, e a toxoplasmose. Em Portugal, ainda não há estimativas que permitam saber que doenças têm maior incidência mas, segundo Sara Monteiro Pires, a salmonelose permanece no topo dos casos reportados.

A Dinamarca conseguiu erradicar a salmonella em frangos e galinhas poedeiras, foi o primeiro país a consegui-lo, constata. A grande mudança aconteceu quando vários elementos de uma família morreram depois de comer uma sobremesa com ovos crus infectada com salmonella, refere Sara Monteiro Pires. O caso, que ocorreu na década de 1980 e comoveu o país, levou as autoridades a tomarem medidas que passaram, inicialmente, pelo abate alargado de aves que podiam estar infectadas e, depois, pela criação de um exigente modelo de testagem que é levado a cabo pela indústria de produção animal.

Mas as medidas de protecção podem ser tomadas em cadeia, “do prado ao prato”, como refere. Há práticas que as pessoas podem adoptar para se defenderem. Uma das “medidas chave” escolhida pela OMS é a necessidade de separar alimentos cozinhados dos crus. Por exemplo, se um frango estiver infectado, as bactérias morrem depois de cozinhado, mas antes disso já podem ter sido transmitidas a vegetais que irão ser comidos crus na salada. Uma medida simples, diz, é usar tábuas separadas para cortar carne ou vegetais.

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