Do Alentejo chegam fardos de palha para cabras e ovelhas não morrerem à fome

Veterinários estimam que morreram 50% dos animais de produção na região. Problemas para a saúde pública estão afastados. Clínica ajuda cães e gatos em dificuldades.

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Frederico Batista

Houve quintas nas quais não sobreviveu um único animal. Outras houve em que sobreviveram algumas cabras ou ovelhas feridas. Das cerca de 4000 cabeças de gado registadas nos três concelhos mais atingidos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, os veterinários já contabilizaram entre 1000 e 1500 animais mortos. A recolha e enterramento de animais está a ser feita por veterinários que não param desde domingo.

As situações mais graves foram detectadas nas “aldeias da Graça, Vila Facaia e Castanheira de Pêra”, onde muitas produções ficaram completamente destruídas, conta ao PÚBLICO Elisabete Martins, Presidente do Conselho Regional da Ordem dos Médicos Veterinários do Centro, coordenadora da equipa de médicos que tem actuado na região.

Os veterinários têm andado de terra em terra a ajudar a enterrar os cadáveres (em profundidade, tapados com cal e longe de cursos de água), para evitar problemas para a saúde pública. Para já, “a recolha de cadáveres está controlada” nestes concelhos, mas só agora vai começar em Góis.

Porém, não há um plano de contingência para ajudar nestas situações de crise. Margarida Ventura, engenheira agrícola na cooperativa FICAPE, em Figueiró dos Vinhos, diz que tem sido pedido o apoio do SIRCA (Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração), mas que este tem falhado. Por isso, as pessoas têm enterrado os animais por si, para evitar problemas piores com a decomposição dos cadáveres, acelerada pelo calor intenso. Elisabete admite que “falhou um bocadinho o apoio do SIRCA”, apesar de, nestas circunstâncias, ser difícil a acção normal desta entidade. “Sugeria um sítio, mais que não fosse, onde se pudesse recolher para um camião os cadáveres e que estes fossem depois transladados para um camião do SIRCA”.

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Além dos veterinários municipais, chegaram outros voluntários para recolher os corpos dos animais mortos e tratar daqueles que estão feridos e que precisam de cuidados médicos e de alimentos no longo prazo: “Estes animais subsistem de pastagens, essencialmente, e não vão ter pastagens, a não ser na próxima Primavera. O problema não é só alimentá-los hoje e amanhã”, explica a veterinária.

Para isso, foram montados três pontos de recolha e de entrega de alimentos. “Está prevista a chegada de um camião com palha que vem do Alentejo”, conta Margarida Ventura. A empresa Rações do Zêzere tem fornecido rações gratuitas a ovelhas e cabras, mas as aves ainda não têm alimento.

António e Rosa não largaram o Gentil

O Gentil tem um pêlo branco tisnado. É um cão simpático e fica todo contente quando alguém lhe vai fazer festas. Teve água, comida e sombra no quartel da GNR de Pampilhosa da Serra, onde passou a noite. Gentil é um cão grande, arraçado de labrador, que pertence a António e Rosa, os únicos moradores de Vale de Carvalho, uma das nove aldeias de Pampilhosa que foram evacuadas de emergência por causa do incêndio de Góis, que ontem não dava tréguas aos bombeiros.

António e Rosa foram algumas das 83 pessoas evacuadas no concelho e, tal como outros habitantes que têm saído de suas casas para deixar passar o fogo, levaram os animais de estimação consigo para os centros de acolhimento.

Para ajudar estes animais, mas sobretudo para tratar dos que têm sido resgatados feridos, mas com vida nos últimos dias, a clínica Vet Figueiró abriu as portas e tratou vários cães e gatos destes três concelhos. Hélder Valente, um dos veterinários, conta que têm estado “a tratar dos animais em estado mais grave”. No internamento, têm quatro cães e um gato, com queimaduras e problemas por causa da inalação de fumo. Todos já têm dono. Já, porque um dos cães, que tem queimaduras graves, era de um senhor que morreu no fogo, mas foi entretanto adoptado.

Esta ajuda, conta o veterinário, tem chegado de “todo o país”, mas também de fora. Por enquanto, têm comida e medicamentos para ajudar os animais de companhia.

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