Dizem ganhar menos do que deviam, mas estão satisfeitos com o trabalho

Entre os mais novos, ter um curso superior não é uma vantagem à partida para se conseguir um contrato sem termo.

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O comércio e as oficinas de automóveis são os sectores de actividade mais representados no inquérito Rui Farinha

A maioria considera que ganha menos do que devia em função do trabalho que desenvolve e tem poucas esperanças de progredir na carreira, mas isso não obsta a que cerca de 90% se digam satisfeitos com o seu trabalho, não havendo diferenças entre homens e mulheres. E 72,6% dizem sentir-se “em casa” na organização onde trabalham. São resultados do Inquérito às Condições de Trabalho em Portugal Continental que será apresentado publicamente nesta sexta-feira.

O inquérito, realizado pelo Cesis — Centro de Estudos para a Intervenção Social, promovido pela Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), abrangeu 1500 trabalhadores, dos quais 50,5% são do sexo masculino. O grupo etário com mais inquiridos é o dos 35 aos 44 anos. O comércio e a reparação de veículos são os sectores de actividade mais representados. Quase metade (47,4%) dos inquiridos trabalha em empresas com menos de 10 trabalhadores.

Quanto ao género, as mulheres destacam-se em dois pólos opostos: “assumem protagonismo nas profissões que exigem um maior nível de qualificação” e também nas profissões menos qualificadas. No primeiro nível, há 11,6% de mulheres que se apresentam como “especialistas das actividades intelectuais e científicas” contra 6,5% de homens. Já no segundo nível a percentagem de mulheres em profissões não qualificadas é de 11,2%, enquanto nos homens este valor baixa para 7,3%.

No que respeita ao vínculo de trabalho, cerca de 70,6% têm um contrato a termo sem termo (71,3% mulheres, 69,9% de homens), mas entre os mais jovens a situação muda drasticamente: mais de metade dos trabalhadores com idades inferiores a 35 anos estão a prazo. Neste sector, mais uma vez, a percentagem de mulheres com contratos sem termo é superior à dos homens (62,2% face a 58,9%).

Ainda no que respeita aos trabalhadores com menos de 35 anos, há, no estudo, este dado revelador: “Ter um nível de instrução superior não é condição facilitadora de acesso a um contrato de trabalho sem termo.” Um dos compromissos assumidos por Portugal no âmbito da estratégia Europa 2020 é o de aumentar para, pelo menos 40%, a percentagem da população na faixa etária dos 30-34 anos, que possui um diploma do ensino superior. Actualmente este valor ronda os 33%.

De regresso ao inquérito, constata-se que 51,7% dos que têm menos de 35 anos e que têm o ensino superior conseguiram um contrato sem termo, subindo esta percentagem para 57,6% entre os que só chegaram no máximo ao final do 3.º ciclo do ensino básico.

Trabalho não afecta outros compromissos

Quanto à duração da semana de trabalho, cerca de sete em cada 10 inquiridos situa-a entre as 35 e as 40 horas. Um quinto trabalha, contudo, mais de 40 horas semanais, sendo que esta percentagem é mais elevada entre os homens (25,4%) do que nas mulheres (15,3%).

Apesar de a maioria trabalhar entre as 35 e as 40 horas semanais, existe uma grande percentagem que o faz nos chamados “horários de trabalho atípicos”: 46,5% afirmam trabalhar pelo menos um sábado por mês; 26,8% trabalham por turnos e 20,5% trabalham pelo menos um domingo por mês. Estes horários de trabalho, sobretudo os nocturnos, afectam mais os homens do que as mulheres.

Só 18,9% das mulheres e 18% dos homens inquiridos dizem que os seus horários de trabalho não se adaptam aos compromissos familiares, pessoais ou sociais que têm fora da actividade profissional. No entanto, entre os trabalhadores do sexo masculino com filhos pequenos, só cerca de 62% gozaram a licença parental. Os que não o fizeram atribuem a “culpa” às características da sua profissão.

O inquérito da ACT procurou também saber que patologias afectavam mais os trabalhadores. As mais referidas foram as seguintes: dores nas costas, dores musculares e articulares e fadiga geral. Mas só cerca de 32% declaram sentir stress em relação aos trabalhos que desenvolvem.

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