Director da FCSH voltaria a tomar a mesma decisão, mas agora "com mais convicção"

Francisco Caramelo denuncia "um fortíssimo e torpe ataque" no rescaldo do cancelamento da conferência organizada pela Nova Portugalidade, revelando que o evento com Jaime Nogueira Pinto será reagendado.

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Fachada da FCSH Rui Gaudêncio

Ainda no rescaldo do cancelamento da conferência organizada pelo grupo Nova Portugalidade, que teria como convidado o politólogo e historiador Jaime Nogueira Pinto, o director da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH), Francisco Caramelo, enviou uma mensagem a docentes, funcionários e alunos da instituição na qual denuncia um "fortíssimo e torpe ataque" à FCSH e revela que a conferência com Nogueira Pinto terá lugar numa data a definir.

Na nota escrita a que o PÚBLICO teve acesso, Francisco Caramelo escreve que nos últimos dias os trabalhadores da FCSH foram confrontados com “uma sucessão perturbadora de notícias que, fundadas em afirmações erróneas e até mentirosas, repetidamente reproduzidas” e que “constituíram um fortíssimo e torpe ataque à FCSH, e à sua essência, ao seu director e direcção e à Universidade Nova de Lisboa”.

Passando depois para os respectivos esclarecimentos, divididos em 12 pontos, Caramelo garante que "a liberdade de expressão faz parte da identidade genética e da história da FCSH” e que “nunca esteve em causa nem nunca estará”. O director recorda todo o processo que levou ao posterior cancelamento da iniciativa intitulada “Populismo ou Democracia? O 'Brexit', Trump e Le Pen em debate”, relembrando que o pedido de reserva da sala onde se realizaria o debate foi feito por um aluno da FCSH, membro da Nova Portugalidade, à Associação de Estudantes.

“Depois disso, observou-se uma intensa crispação e posições políticas antagónicas e extremadas decorrentes da realização da conferência”, explica Francisco Caramelo. Uma vez aprovada a moção nesse sentido numa Reunião Geral de Alunos, a direcção da Associação de Estudantes requereu o cancelamento da conferência, pedido que, diz Caramelo, não foi acatado pela direcção da FCSH. “Fica assim claro que nunca esteve em causa a liberdade de expressão”, realça.

Com a manutenção do evento, a direcção começou a “receber sucessivas informações e indicações relativas a possíveis confrontos e insegurança”, sendo que a Nova Portugalidade pediu a presença da polícia “antes e durante da conferência”. “Isso era inaceitável”, considera Caramelo, revelando que a organização anunciou que “traria dez homens” para garantir a segurança do evento.

Desta forma, e confrontada com a “probabilidade de violência”, que era “muito elevada”, a direcção da FCSH concluiu que não existiam condições de segurança para a realização do debate, tendo o director contactado pessoalmente Nogueira Pinto. Caramelo garante que hoje tomaria, "em consciência", a mesma decisão, mas "ainda com mais convicção", tendo em conta os acontecimentos que lhe sucederam, "nomeadamente a entrada de dezenas de pessoas, identificadas como pertencentes à extrema-direita, com atitudes intimidatórias sobre os nossos alunos, e a concentração promovida pelo PNR",

Confirmando a versão tornada pública pela reitoria da Universidade Nova na semana passada, Francisco Caramelo garante que nunca se tratou “de uma anulação definitiva” da conferência, mas sim um adiamento, tendo, inclusivamente, convidado o politólogo a marcar presença na conferência numa data futura. Segundo o mesmo responsável, Nogueira Pinto, com quem Francisco Caramelo se reuniu na passada sexta-feira, aceitou o convite e a conferência será marcada em função “das disponibilidades do conferencista”.

“A FCSH continuará a ser o que tem sido nos últimos quase quarenta anos. Um bastião das liberdades académicas e intelectuais, do pensamento e do debate”, conclui o director da FCSH.

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