Dias Loureiro critica justiça e políticos. E admite ter perdido "amigo" Cavaco

Antigo ministro social-democrata critica despacho de arquivamento. "Não se pode ter uma pessoa oito anos com suspeita em cima", diz em entrevista ao DN.

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Dias Loureiro em 2006 ENRIC VIVES-RUBIO / PUBLICO

Depois de o Ministério Público (MP) ter anunciado esta terça-feira que arquivou um processo-crime aberto em 2009 em que Manuel Dias Loureiro era suspeito de burlar o Banco Português de Negócios (BPN), o antigo ministro social-democrata quebrou o silêncio de oito anos. Numa entrevista ao Diário de Notícias (DN), critica o despacho de arquivamento, que mantém todas as suspeitas, o poder político, entre os quais todos os Presidentes da República, e diz que perdeu um grande amigo: Cavaco Silva.

“Não gosto nada do teor deste despacho de arquivamento”, diz o também antigo conselheiro de Estado, afirmando que foi lançada uma suspeição contra si. “No meio disto inventaram-se não sei quantas calúnias, não sei quantas mentiras - não são inverdades, são mentiras descaradas -, feitas naturalmente em conluio entre jornais e alguém que sabia coisas do processo”, acusa.

“Inventaram que eu vivia em Cabo Verde, e eu fui a Cabo Verde uma vez na vida, quando estava no Governo há mais de 23 anos. Nunca mais lá fui, não tenho lá nada, e, no entanto, inventaram que eu vivia em Cabo Verde, isso foi uma verdade”, exemplifica Dias Loureiro.

Ainda sobre o despacho do MP, considera ser “uma aberração absoluta”, nomeadamente uma excerto em que se diz: "Os negócios em causa visavam a satisfação de outros interesses já que o prejuízo era inevitável (…) que as práticas de gestão, a serem sérias, são extremamente pueris e desavisadas. (...) O objectivo dos negócios foi tão só o enriquecimento ilegítimo de terceiros à custa do prejuízo do BPN, nomeadamente de si e do Dr. Oliveira e Costa...", citou o DN durante a entrevista.É uma contradição nos termos e é uma aberração. Repare, isto é um inquérito que levou oito anos, o inquérito que em qualquer país são seis meses, oito meses, dez meses. Eu estive oito anos com uma suspeição em cima”, critica o antigo dirigente social-democrata, relembrando o período em que esteve sob investigação.

Centrando-se ainda nos oito anos de duração do processo, Dias Loureiro refere que os cidadãos portugueses “têm uma desprotecção total” e que “a protecção dos direitos fundamentais passou alheio a todos os Presidentes até agora e está a passar alheio a este, até agora”. “Temos um Presidente que tem opinião sobre tudo menos sobre a questão dos direitos fundamentais do cidadão, o homem é que é o fim da política, isto passa-lhe também ao lado”, afirmou ainda, criticando neste caso o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Apesar disso, Dias Loureiro estende as críticas a todos os poderes políticos: “Aos governos, passa a todos, nunca ninguém se preocupou com isto, deputados, parlamentares. O próprio Parlamento enquanto Parlamento, nada. Um só deputado preocupado com isto, a falar sobre isto, nunca vi”. 

“A Procuradoria-Geral da República devia ela própria ser guardiã destes valores de um Estado de Direito”, diz ainda, denunciando também que “não se pode ter uma pessoa oito anos com suspeita em cima”.

Sobre esta questão, ministro dos dois Governos de maioria absoluta de Cavaco Silva diz que está a analisar o que pode fazer, “mesmo no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem”. “Quem escreveu este despacho não vai ser avaliado. Isto não existe e tudo continua na mesma. Isto é, o Presidente da República, o Governo, o Parlamento, os deputados, todos continuam nas suas vidas e não vai acontecer nada. Não é só em relação a este caso, é em relação a todos os casos”, atira.

Numa vertente mais pessoal, revela que, durante todo o processo, cortou “com um só amigo, um grande amigo”. Alguém a quem dedicou “uma amizade incondicional nos últimos 32 anos”, mas que considera que não se portou bem com ele. “Falo do professor Aníbal Cavaco Silva”, revela.

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