Dia Mundial do Não Fumador – apaixone-se pela vida, não fume

O consumo de tabaco é um vício que, embora socialmente aceite, causa doença e retira anos de vida.

Hoje comemora-se, uma vez mais, o Dia Mundial do Não Fumador.

É a altura ideal para tirarmos algum tempo da nossa vida agitada para reflectir sobre as razões que nos devem levar a não iniciar o consumo de tabaco ou, se já estamos viciados, a deixarmos rapidamente de o consumir.

Em Portugal são anualmente diagnosticados cerca de 4000 novos casos de cancro do pulmão e morrem, por esta doença, cerca de 3600 doentes. Sabendo que o tabaco está directamente associado a cerca de 80% de todos os casos de cancro do pulmão, 2800 destas mortes terão ocorrido devido aos hábitos tabágicos – cerca de 8 mortes por dia devido ao consumo de tabaco. Para se ter uma melhor noção da dimensão real desta doença, pode dizer-se que em 2014, o número de mortes por acidentes rodoviários (480 mortes), que motivam tanta preocupação na população em geral, foi 5.8 vezes inferior ao número de mortes por cancro do pulmão motivados pelo tabaco.

E o tabaco está implicado num grande número de outras doenças, muitas delas consideradas benignas mas potencialmente muito incapacitantes e que encurtam o tempo de vida dos fumadores, de que são exemplos a doença cardíaca isquémica, a doença cerebrovascular ou a doença pulmonar obstrutiva crónica.

E já não é lícito justificar o consumo de tabaco pela necessidade de afirmação no grupo social, pelo efeito de transmitir algum “glamour”, por ser um facilitador de conversas ou ser um justificativo para uma pausa no trabalho. Podemos ter tudo isto sem necessidade de fumar. Não se pode, sobretudo, justificar o consumo de tabaco pela ignorância acerca dos seus malefícios.

Sejamos claros. O consumo de tabaco é um vício que, embora socialmente aceite, causa doença e retira anos de vida, provoca acentuada dependência física e psíquica e que consome muitos recursos financeiros, directos (no acto da sua compra) e indirectos (quando se instala doença a ele associada). Um indivíduo que fuma uma vida inteira, encurta em média essa vida em cerca de 10 anos. Um fumador de um maço de cigarros por dia, gasta em média 4 euros por dia e 1460 euros por ano só em tabaco. É um preço muito elevado.

A sociedade já entendeu que, tal como com a prevenção de acidentes rodoviários, é fundamental educar, mas também facilitar a acessibilidade a quem pretende deixar o vício, legislar, fiscalizar e autuar quando necessário. Tudo começa com a educação, que se devia iniciar de forma estruturada desde o ciclo básico escolar (é fundamental criar um plano de actividades a nível escolar acerca de estilos de vida saudáveis, onde se inclua a questão do tabaco), e com a educação menos formal, aquela que advém do exemplo dos pais, dos professores, dos ídolos da juventude. Facilitar a acessibilidade às consultas de cessação tabágica, para que quem quer deixar de fumar possa ter acesso a consultas fora do horário de trabalho, e comparticipar os medicamentos que ajudam a deixar de fumar, para evitar constrangimentos financeiros, seriam passos importantes para ajudar a travar esta batalha, bem como legislar no sentido de restringir a venda a menores, restringir os locais onde se permite fumar e aumentar a carga de imposto que incide sobre o tabaco (principal dissuasor do consumo). Essencial, também, é fazer cumprir a legislação em vigor, implementando-se uma fiscalização mais eficaz e que autue quando não se cumpre.

Acima de tudo, é crucial que a sociedade reconheça o assunto como importante e se mobilize na vontade de lutar contra esta epidemia.

Por todos estes motivos, a Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão faz um esforço para em todos os Novembros relembrar à sociedade e aos legisladores a importância de se continuar a lutar contra o tabaco. Porque vale a pena apaixonarmo-nos pela vida – por uma vida saudável, livre de vícios nefastos, para que possamos viver plenamente, com qualidade de vida, o máximo de tempo possível. Vale a pena desfrutar da família, dos amigos, dos projectos que se acarinham, dos passatempos (seja o exercício, as artes, a comunicação), termos tempo para nós. Para conviver, para conversar, para sair, para ter um intervalo no ritmo de trabalho, não use desculpas!

Termino como há um ano atrás – temos ainda um longo caminho a percorrer, no sentido de esclarecer e proteger os cidadãos e a Pulmonale esforça-se por dar o seu contributo.

Apaixone-se pela vida, não fume!

Presidente da Pulmonale

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