Cumprimentos caninos

Os cumprimentos dos cães fazem parte da alegria da vida. São surpresas com que se pode contar. São cumprimentos curtos.

Os cumprimentos dos cães fazem parte da alegria da vida. São surpresas com que se pode contar. São cumprimentos curtos. Não se pode levar a mal que não sejam prolongados. Um cão simpático pode ter de cumprimentar dezenas de
pessoas por dia.

Às vezes é só um encosto de cabeça ou até, de passagem, o levantamento do queixo acompanhado por um olhar amigo. O cão está a fazer-nos o favor de reconhecer a nossa existência. Quanto mais atarefado fôr mais telegráfico terá de ser.

Há um cão que passeia sozinho pela praia. Nunca tem fome nem sede. Só curiosidade. A maneira que tem de me cumprimentar é deixar caír a cabeça pesadamente na minha perna. Como tem as barbas encharcadas da água do mar sou sempre o primeiro a saber se está muito fria.

Antes de eu poder protestar já ele seguiu caminho. Não há chamamento humano que o convença a voltar. Bem me apetecia que ele passasse mais tempo comigo - até para conhecê-lo melhor - mas ele tem uma rotina inflexível. Os encontros fortuitos com pessoas como eu não estão contemplados no timing do circuito. Daí a breve duração mas também a intensidade de cada cumprimento.

Os gatos são conforme lhes dá: tanto podem ser chatos de tão melosos como reagir histericamente, fugindo como quem odeia o monstro que acaba de lhes estragar o dia.

Já as pessoas demoram-se tempo de mais,  tendendo para a insinceridade e para o sacrifício escusado. Os cães é que são mestres cumprimentadores. Os políticos ganhariam em estudá-los mais e imitá-los menos.

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