Cuidado com os puros

Tudo o que Frei Bento Domingues escreve, por ter pensado e sentido, diz-nos respeito.

“Na Bíblia, o grande acusador é o diabo ou os que os imitam, os que têm gosto em acusar, como os escribas e os fariseus”.

Esta é a única frase da maravilhosa crónica de Frei Bento Domingues (FBD) no PÚBLICO de Domingo que não me transportou e não me ensinou, sábia e generosamente, a ser uma pessoa menos má do que aquela que sou, sem qualquer esforço mas muita resistência da minha parte.

Pelos escribas não me sinto habilitado a falar embora instintivamente, na minha ignorância e identidade, gostaria bastante de poder defendê-los. Já os fariseus – habitualmente insultados tanto por judeus como por cristãos – não merecem, com certeza, serem definidos como imitadores do diabo.

A frase irritou-me por ser acusadora. FBD é um bom cristão e eu sou um mau judeu. O título da crónica dele é “O gosto perverso de acusar”. Precisamente.

Na crónica ele ilumina e exemplifica, no Papa Francisco, não só a bondade (e por empatia, naturalidade) de quem, como pecador, perdoa quem se confessa.

Mas vai mais longe: “Só aquele que se sente pecador pode ser um grande perdoador no confessionário. Os que se julgam puros e mestres sabem apenas condenar”.

FBD é um sábio bom. É universal. O que atrai e convence é a capacidade empática dele. Ele é um unificador tão inteligente e intelectual como emocionante, polémico e entusiasmado.

O homem é fogo; céu; terra e, acima de tudo, amor por Deus.

Tudo o que ele escreve, por ter pensado e sentido, diz-nos respeito.

 

 

 

 

 

 

 

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