Crato não comenta mudanças do seu sucessor, mas fala de política

Ex-ministro da Educação recusa falar sobre o novo modelo de avaliação do Ensino Básico na sua primeira “aula” depois de sair do Governo.

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Nuno Crato durante uma visita, quando era ministro da Educação Daniel Rocha/Arquivo

Dois anos depois de uma visita à Escola Básica e Secundária Ferreira de Castro, em Oliveira de Azeméis, ainda na pele de ministro da Educação, Nuno Crato voltou nesta quinta-feira ao mesmo local para falar sobre a obra A Curva da Estrada, naquela que foi a sua primeira “aula” depois de ter saído do Governo.

O ex-governante centrou o seu discurso no livro de Ferreira de Castro, nas personagens, no contexto histórico, na trama da história, mas quando da plateia um professor lhe pergunta se não valeria a pena fazer um pacto de regime na educação, para pôr fim a tantas mudanças que desestabilizam o sistema, a resposta não é directa. Curva, contracurva, Crato decide citar uma frase de um livro de Tolstoi: “Ao princípio, zangávamo-nos porque estávamos em desacordo, agora estamos em desacordo porque estamos zangados”. “E, em política passa-se, às vezes, isso”, acrescentou.

Pouco depois, à margem da palestra em que aguçou o apetite para a obra de Ferreira de Castro, e questionado sobre o conteúdo da frase retirada da obra Anna Karenina, Crato disse um pouco mais. “O que vemos, muitas vezes, acontecer na política é que começamos a discutir divergências políticas e depois as divergências políticas desaparecem. Ou seja, o fundamento político daquilo que se está a falar desaparece e entra-se em discussões só porque se está em desacordo, só porque se é de outra facção, e isso é muito negativo”, referiu, avisando de imediato que estava a falar da literatura de Tolstoi, a falar, portanto, em abstracto. 

Nuno Crato deixou claro que não falaria da actual política de educação. Sobre a actuação do seu sucessor, Tiago Brandão Rodrigues, nem uma palavra. Nem mesmo quando a pergunta foi directa, ou seja, sobre o que achava do novo modelo de avaliação do Ensino Básico. O recado já tinha sido dado na resposta ao tal professor que estava na plateia. “Aquilo que eu penso sobre educação é conhecido. Claro que eu queria que houvesse mais acordo numa série de coisas, mas infelizmente isso não é possível”. E não concretizou que coisas.

Nuno Crato foi convidado para falar sobre Ferreira de Castro no ano em que se comemoram 100 anos do início da vida literária do escritor nascido em Oliveira de Azeméis, mais concretamente sobre a obra A Curva da Estrada, que leu quando tinha 25 anos. E cumpriu. E se o romance em análise fala de um político corrupto que apalpa terreno para deixar um partido e se filiar noutro, na tentativa de conseguir o melhor lugar possível, a política havia de entrar no seu discurso. Quase sempre ligada à obra, mas com algumas curvas por fora. “Há pessoas que fazem da política uma profissão, em vez de fazer do serviço público uma missão”, disse. No livro viu “um jogo político muito subtil que se passa aqui e em todo o lado”. Na sua opinião, não há mal mudar de partido ou de ideias. “O que é mau é fingir ter as ideias que são mais convenientes para se meter na política, ou onde quer que seja”.

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