GNR admite ter sido surpreendida em Pedrógão, diz António Costa

O primeiro-ministro recebeu resposta a uma das três perguntas colocadas sobre o que terá falhado no fim-de-semana em que dezenas de pessoas morreram na estrada nacional 236-1.

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Adriano Miranda

“Por que não foi encerrada ao trânsito a EN 236-1, foi esta via indicada pelas autoridades como alternativa ao IC8 já encerrado e foram adoptadas medidas de segurança à circulação nesta via?” Esta é a terceira pergunta que o primeiro-ministro, António Costa, faz, no despacho datado de 19 de Junho, a que o PÚBLICO teve acesso, sobre o incêndio de Pedrógão Grande.

Esta pergunta é dirigida ao tenente general Manuel Silva Couto, comandante-geral da GNR — as outras duas têm como destinatários as lideranças da Autoridade Nacional de Protecção Civil e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera — e é a primeira a ter resposta, segundo revelou Costa numa entrevista à TVI.

“O fogo terá atingido esta estrada de forma totalmente inusitada” e “repentina” que “surpreendeu” todos, "incluindo os próprios militares", leu o primeiro-ministro.

Costa afirma que a resposta "é muito consonante com a própria descrição” que ouviu durante o fim-de-semana da parte das autoridades locais e de populares, e que sublinhava a rapidez com que as chamas se alastraram na zona.

Na entrevista à TVI, e sem dispensar um posterior apuramento de responsabilidades, Costa expressou “confiança na cadeia de comando, desde a ministra até aos homens que estão no combate”. "Não tenho nenhuma evidência que tenha havido qualquer falha", disse o primeiro-ministro.

Questionado directamente sobre se mantinha a confiança na ministra da Administração Interna, o chefe do Governo disse que “com certeza que sim”. “Constança Urbano de Sousa tem sido uma excelente ministra”, defendeu, considerando que a Administração Interna é uma pasta “difícil” que “nunca tem boas notícias”.

“Quando não é o incêndio, é a cheia, quando não é a cheia, é o polícia que é morto”, disse Costa, que liderou a pasta durante o Governo de José Sócrates. “Muitas vezes, o melhor desempenho não impede os piores resultados”, afirmou. “Eu sei bem a dificuldade do que é lidar com incêndios desta dimensão”, disse.

O primeiro-ministro negou ainda que esteja a ser recusada a oferta de ajuda por parte de outros países, apontando o pedido de auxílio feito a Marrocos. “Estamos a solicitar as ajudas que os comandos, a cada momento, entendem ser necessários”, afirmou.

Subida significativa do número de vítimas já não é esperada

Confirmando que durante o fim-de-semana chegou a ser temido um balanço de vítimas superior a uma centena de mortos, o primeiro-ministro afirma agora que já não espera um agravamento significativo da cifra, “com excepção de feridos graves" que possam ter uma evolução negativa. Neste momento estão confirmadas 64 mortes.

O primeiro-ministro recordou que "a maioria dos cadáveres foi encontrada numa área de cinco quilómetros quadrados”, “30 deles numa área de 400 metros”, sublinhando o carácter excepcional do incêndio de Pedrógão.

“A explicação que as pessoas dão é que houve uma espécie de furacão. Não sei. Temos de ver”, disse Costa, que afirma contudo que a explicação meteorológica para a tragédia do fim-de-semana “não chega”.

À TVI, Costa afastou ainda a ideia de um atraso no processo legislativo em torno da reforma da floresta portuguesa, sublinhando que os direitos de propriedade devem ser acautelados. “Eu não posso pedir à AR que faça uma reforma desta dimensão em cima do joelho”, disse.

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