Correia de Campos desvaloriza estimativas de 25 a 30 por cento de desperdício no SNS

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Correia de Campos foi substituído pela actual ministra, Ana Jorge Foto: Carlos Lopes/arquivo

O ex-ministro da Saúde, Correia de Campos, desvalorizou este sábado as auditorias que apontaram para “um desperdício de 25 a 30 por cento no Serviço Nacional de Saúde (SNS)” em Portugal, considerando que esses números “não estão comprovados”.

Ao intervir hoje, em Viseu, num fórum promovido pela concelhia do PS, Correia de Campos referiu que “diz-se que o SNS desperdiça muito dinheiro e há sempre uma auditoria do Tribunal de Contas” que estima o desperdício entre 25 a 30 por cento. “Esses números não valem rigorosamente nada. Não estão comprovados”, frisou.

Na opinião de Correia de Campos, é a mesma coisa que dizer que “um bom sistema de gestão dos armazéns de uma empresa privada pode poupar 30 por cento”. “Pode poupar 30, pode poupar 10 ou pode não poupar nada. São números que se atiram para auditórios que normalmente não estão familiarizados com este processo. É para deixar o pobre público completamente esmagado”, considerou.

O ex-governante alertou que é preciso olhar para o SNS “com grande racionalidade e objectividade”, considerando que os ganhos de eficiência têm de ser conseguidos “através de uma racionalidade maior no uso dos dinheiros”. “A questão importante não é saber se há desperdício, é onde é que ele existe. É de excesso de pagamentos aos profissionais, é em medicamentos ou material de consumo, são redundâncias, instituições que se repetem, servidões públicas que já não servem o interesse público, benefícios para pessoas que estão comodamente instaladas a receber essa renda sem produzirem algo?”, questionou.

Correia de Campos criticou duramente as propostas apresentadas pelo PSD relativamente ao SNS, nomeadamente de que é preciso “privatizar pequenas e médias unidades, concessionar a sua gestão a privados, preparando a sua eventual privatização”. Essa proposta, realçou, “parte da noção de que os hospitais são peças isoladas. E os pequenos hospitais distritais não são isolados, estão articulados e cada vez mais”.

Por outro lado, criticou a ideia de que, “na impossibilidade de total privatização, a segunda melhor solução seria a livre concorrência entre a gestão pública e a privada”. “Este conceito parte da ideia de que a concorrência se estabelece entre serviços iguais, ou instituições que têm os mesmos poderes em termos de liberdades, o que não é verdade”, afirmou, lembrando que “os hospitais públicos têm servidões”, como a obrigatoriedade de ter uma urgência aberta 24 horas por dia, encargos com ensino dos profissionais e disponibilidade para a investigação.

Correia de Campos disse ainda que, para o PSD, “a gratuitidade na saúde é sempre perniciosa para a eficiência e só deveria haver para os muito pobres”. “A ideia de que os doentes devem pagar para usar serviços de saúde em proporção dos seus rendimentos assenta da ficção de que a justiça distributiva se pode ensaiar em todos os lugares e momentos, mesmo aqueles em que a pressão social da doença torna impossível o exame objectivo da condição dos recursos”, referiu. Lamentou que no acordo entre PS e PSD tenha ficado “a ideia de que devia haver um benefício fiscal ao contribuinte que recorre ao sector privado”, o que na sua opinião é “injusto e discriminatório” e só beneficia o sector privado de saúde.

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