Contratos de associação: arcebispo de Braga critica "totalitarismo de Estado"

Jorge Ortiga lamentou a "pressa" do Governo em reduzir os contratos de associação. "Dá impressão haver aqui uma ânsia de qualquer coisa que poderá acontecer e não ser possível fazer-se e vamos fazer enquanto podemos", comentou.

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O arcebispo Jorge Ortiga receia que a posição face aos colégios seja tomada também noutras áreas Nelson Garrido

O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, equiparou nesta quinta-feira a posição do Governo sobre os contratos de associação com colégios ao “totalitarismo de Estado”, frisando que se trata de uma "campanha" e de "uma questão ideológica".

"Para mim é uma questão ideológica este totalitarismo do Estado. O Estado tem uma função supletiva e não de alguém que assume tudo, nem tem capacidade para isso, nem o deve fazer", comentou, em declarações aos jornalistas. Falando em Celorico de Basto depois de ter participado num seminário organizado pela autarquia sobre família e comunidade, o arcebispo disse estar “preocupado” com a decisão de reduzir o financiamento do Estados aos colégios para estes garantirem ensino gratuito: “Isto está a obedecer a uma campanha que se irá alargando a outros campos de acção", como as instituições de solidariedade social e a área da saúde, inclusive com nacionalizações de equipamentos, nomeadamente hospitais.

"Poderá haver razão nesta política, mas o modo como isto foi feito, sem a conveniente reflexão, sem o tempo oportuno, não me parece muito adequado", afirmou, para acrescentar: "Dá impressão haver aqui uma ânsia de qualquer coisa que poderá acontecer e não ser possível fazer-se e vamos fazer enquanto podemos".

Jorge Ortiga frisou que os contratos assinados pelo Estado com os estabelecimentos de ensino eram para vigorar por três anos, um período que poderia ser aproveitado para "reflectir, encontrar soluções, ver os problemas de uns e de outros e ver o melhor caminho, na defesa dos interesses de todos". "Era necessário pensar isso com calma. É uma hipótese e há quem diga que já existe na gaveta propostas para essa possibilidade", afirmou.

Alertou, por outro lado, que muitos dos colégios afectados pela medida do Governo poderão vir a fechar, "mais tarde ou mais cedo", obrigando a despedimentos de professores e outros profissionais, para além de provocarem prejuízos na economia que funcionava em torno dos estabelecimentos, sobretudo na área do comércio.

"Estas escolas existiam em determinados lugares e promoviam um certo desenvolvimento, particularmente do comércio, na linha de restaurantes e cafés. São pessoas que vão ver o seu futuro ameaçado e isso, do dia para a noite, sem a conveniente reflexão", criticou.

"É necessário reflectir sobre que modelo de sociedade que queremos. Se queremos uma sociedade alicerçada na ditadura do Estado, em que o Estado é possuidor de tudo, controlador de tudo, que está em tudo", vincou.

À Lusa, o prelado recordou ter exultado na sua juventude com o 25 de Abril. "Experimentei uma realidade e não gostaria que voltássemos a um controlo estatal", disse.

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