Confronto maçónico começa hoje a ser julgado em Lisboa

Luís Nandin de Carvalho é o queixoso, José Eduardo Medeiros e José Manuel Moreira os arguidos. Os factos remontam a Dezembro de 1996 e começam ser julgados na manhã de hoje, no 3.º Juízo Criminal de Lisboa. Nandin de Carvalho era na altura grão-mestre da Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), cargo em que fora empossado no dia 28 de Setembro desse ano, sucedendo a Fernando Teixeira. A sede da GLRP era então em Cascais, num edifício designado por Casa do Sino, alugado por Fernando Teixeira em seu nome pessoal.

No dia 7 de Dezembro, um comando privado, liderado por José João Zoio, que disse actuar em representação de Fernando Teixeira, tomou posse do edifício e interditou a Nandin de Carvalho a entrada, que entretanto, por pronunciamento de J. Eduardo Medeiros, J. M. Moreira e F. Teixeira, foi demitido do cargo de grão-mestre, acusado de "insanidade maçónica".

Nandin de Carvalho considerou a acusação difamatória e não aceitou a demissão. É precisamente este aspecto do confronto entre as duas partes que vai ser julgado. Nandin de Carvalho queixou-se da atitude dos antigos irmãos maçónicos, o Ministério Público aceitou-a e considerou passível de ser considerada de ofensa pública. Dado que Fernando Teixeira morreu entretanto, em julgamento vão estar os apenas J. Medeiros e J. M. Moreira.

"Insanidade maçonica"

Por ocasião dos incidentes, Medeiros, que foi eleito pelos seus pares grão-mestre interino, justificou ao PÚBLICO a acusação de "insanidade maçónica" e o afastamento de Nandin de Carvalho por diversas razões. A primeira foi ter cedido uma foto de uma cerimónia maçónica privada a "A Capital", que a publicou na sua edição de 29/11/96, o que, para Medeiros, justificava só por si a acusação de "insanidade maçónica". A segunda razão foi o excessivo protagonismo que a si próprio se atribuiu Nandin de Carvalho, "insinuando uma familiaridade" com o então Presidente dos EUA, Bill Clinton, e um papel determinante na diplomacia paralela que se desenrolava em torno de Timor-Leste. O grupo liderado por Medeiros considerou que a conduta de Nandin ia "comprometer a imagem da GLRP". Além disso, acusavam Nandin de também ter descurado os deveres de grão-mestre, ao permitir a consagração "selvagem" de uma loja maçónica e de ter uma atitude desleal para com o antigo grão-mestre, Fernando Teixeira, ao enviar uma "carta endereçada ao Arco Real Internacional", com a intenção de demiti-lo das suas funções de sumo sacerdote em Portugal desse capítulo de altos graus maçónicos.

Em pano de fundo desta polémica estava a posse da Universidade Moderna e a influência que Nandin de Carvalho, enquanto grão-mestre, entendia dever exercer sobre Braga Gonçalves, também ele irmão maçónico da GLRP. Neste momento o caso da gestão da Universidade Moderna está em processo judicial, encontrando-se Braga Gonçalves em prisão preventiva

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