Comer e cagar

A merda é uma prova de vida. O resto é azar.

Comer, cagar e viver: são três os verbos - com cinco letras apenas - que caracterizam os seres vivos, dos unicelulares até aos organismos mais variados.

Na terça-feira tivemos o desprazer de descobrir inúmeros depósitos de fezes deixadas por dois bichos que adoramos (as osgas e os andorinhões) em duas especialidades de lavandaria das quais dependemos: as toalhas de casa-de-banho que usamos para secar as mãos e os lençóis da cama estendidos ao sol em que nos deitamos.

Estava tudo cagado. A dieta dos andorinhões (reis do voo celeste) e das osgas mediterrânicas e turcas (princesas da aderência terrestre) é muito mais parecida do que pensamos, no caso estranhíssimo de pensarmos nisso.

Os mosquitos e as traças são as lagostas e os lavagantes dos andorinhões e das osgas. Mas nem uns nem outras devem provocar a desprisão de ventre que choveu merda a granel sobre nós na terça-feira.

Apareceu, com certeza, um insecto invulgar mas delicioso - como é o caso da navalheira, que é o marisco mais saboroso e barato da nossa costa - que deu a volta às tripas dos nossos ídolos.

Cagaram-nos tudo. E nós ficámos felizes. É na terra como no céu: as lutas intestinas são as piores de todos. As toalhas e os lençóis regressaram à máquina de lavar. Mas os andorinhões e as osgas continuam a fazer parte da vida e a agir - correctamente - como se tudo lhes pertencesse.  

Na melhor versão da vida que nos é possível imaginar é verdade.   

A merda é uma prova de vida. O resto é azar.

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