Começar do zero

É pena que tanta gente saiba explicar porque é que os incêndios acontecem mas ninguém seja capaz de impedi-los de acontecer.

São tantos os peritos. Cada um deles sabe qual é o problema. Cada um deles sabe qual é a solução. Cada um deles sabe de quem é a culpa.

O mal é haver X. O mal é não haver Y. O mal é do ordenamento do território. O mal é da falta de pessoal. O mal é da falta de investimento. O mal é da falta de educação. O mal é da ignorância. O mal é das falsas economias. O mal é das vistas curtas. O mal é da pobreza. O mal é da falta de dinheiro. O mal é da ganância. O mal é do desconhecimento ecológico. O mal é das reformas. O mal é dos políticos. O mal é da política. O mal é do planeta. O mal é do capitalismo. O mal é da incúria. O mal é do sistema. O mal é da natureza humana. O mal é dos portugueses. O mal é do ser humano.

É fácil fazer uma lista de males. Um mal nunca vem só. É pena que tanta gente saiba explicar porque é que os incêndios acontecem mas ninguém seja capaz de impedi-los de acontecer. Um dos deveres mais básicos de qualquer estado é proteger os cidadãos. Quando acontece uma tragédia a única resposta racional é juntar esforços para tentar impedir que volte a acontecer. Isso significa, no mínimo, mudar imediatamente o estado das coisas. Isso significa criar imediatamente uma nova força de prevenção dos incêndios: uma força científica, executiva, didáctica e policial. Isso significa um orçamento generoso. Isso significa recrutamento. Isso significa gente qualificada e ordenados decentes.

E isso significa, também, acarinhar e dignificar as outras vítimas: os bombeiros.

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