Começar a fazer exercício na meia-idade? Vai sempre a tempo

O risco de sofrer um AVC diminuiu em mais de 50% no caso dos homens que passaram a fazer exercício em comparação com os que se tornaram sedentários, concluiu um estudo norueguês que apenas incluiu homens.

Foto
Mário Lopes Pereira

Nunca é tarde demais para se começar a fazer exercício físico. Um estudo divulgado no recente Congresso Europeu de Cardiologia concluiu que, para reduzir o risco de acidente vascular cerebral (AVC) ou trombose, é tão eficaz começar a fazer exercício físico aos 40 ou aos 50 anos como ser-se fisicamente activo desde a juventude.

Uma equipa de investigadores noruegueses que seguiu o percurso de 1403 homens com idades entre os 40 e os 59 anos percebeu que se vai sempre a tempo de deixar o sedentarismo e que o esforço compensa mesmo após anos e anos de inactividade. Cerca de um terço dos homens (que foram monitorizados ao longo de sete anos) aumentou os níveis de actividade física, enquanto 65% tornaram-se menos activos.

Os que começaram a exercitar-se a partir dos 40, ou mesmo dos 50 anos, viram o risco de AVC baixar para níveis semelhantes aos daqueles que apostaram em manter a boa forma física desde a juventude. O investimento compensa, acentua o coordenador do estudo, Erik Prestgaard, do departamento de cardiologia do Hospital Universitário de Oslo.

O risco de sofrer um AVC diminuiu em mais de 50% no caso dos homens que passaram a fazer exercício em comparação com os que se tornaram sedentários. O estudo não incluiu mulheres.

Em simultâneo, os investigadores concluíram que os homens que desistiram de se exercitar na meia-idade viram aumentado o risco de sofrer um AVC. Não basta assim estar em boa forma na juventude, é preciso que as pessoas se mantenham activas ao longo de toda a vida, enfatizam.

Apesar de não ter tido acesso ao estudo integral, o director do Programa Nacional para a Promoção da Actividade Física, Pedro Teixeira, considera que os resultados “são inovadores e importantes, embora não surpreendentes”. São inovadores, destaca, “porque mostram que o impacto da actividade física na redução do risco de um evento cerebrovascular é visível mesmo para um grupo para o qual se poderia esperar que tal não acontecesse: pessoas fisicamente inactivas durante uma boa parte da sua vida adulta”.

Estes resultados, acrescenta, são genericamente comparáveis “aos benefícios de deixar de fumar depois de muitas décadas como fumadores”. A mensagem a reter, frisa o professor da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, é a de que “nunca é tarde demais para começar” num país como Portugal, onde a doença cerebrovascular “é uma causa de sofrimento e morte prematura importantíssima”.

Se estes resultados forem extensíveis a outros países — “e não há uma boa razão para não serem” —, haverá assim “mais evidência de que investir na prática de actividade física, mesmo em pessoas depois dos 40-50 anos de idade, pode trazer dividendos de saúde pública muito elevados”, acentua.

Este estudo “vem confirmar a ideia que os cardiologistas têm há muito tempo, e para todos os factores de risco das doenças cardiovasculares: a de que nunca é tarde demais para começar”, corrobora o presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, João Morais.

Outra mensagem importante a retirar desta investigação, nota, é a de que “interromper o exercício físico é sempre mau, porque o benefício obtido vai-se perder ao fim de algum tempo”.

Não há um tipo ou modo de exercício especialmente adequado para este grupo, a crer nos resultados do estudo norueguês. “Qualquer nível de actividade física é extremamente benéfico quando se parte do sedentarismo. Se for possível para alguns caminhar (ou correr, jogar, dançar, nadar, etc.) na direcção de cumprir as recomendações de cerca de 20 ou mais minutos por dia (ou acumular 150 minutos ou mais por semana), tanto melhor”, aconselha Pedro Teixeira. “Está bem documentada a existência de uma relação entre o exercício físico e a redução do risco de desenvolvimento de algumas doenças cardiovasculares, como a doença coronária e os acidentes vasculares cerebrais, assim como de factores de risco cardiovasculares comuns, como a hipertensão arterial, a obesidade e a diabetes”, reforça o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrageta.

Mas um estudo recente efectuado pela FPC, com uma amostra de 1220 pessoas, permitiu perceber que quase dois terços (67%) eram sedentários e, destes, cerca de metade considerava mesmo que o exercício físico “não é importante, nem interessante”. Manuel Carrageta observa que se verificou uma pequena descida dos que fazem exercício face a um inquérito de 2015, que se deveu a à população com 45 ou mais anos. Já “os mais jovens mantiveram ou até melhoraram ligeiramente os níveis de 2015”.

Os dados mais recentes (do Inquérito Alimentar Nacional e de Actividade Física de 2015-2016) sugerem que apenas 27% dos adultos (23% das mulheres e 32% dos homens) são “suficientemente activos”.
Cerca de 30% praticam alguma actividade física, mas não o suficiente para cumprir as recomendações, e 42% não praticam actividade física suficiente para ter quaisquer benefícios na saúde.

Sugerir correcção
Comentar