Comboios Porto-Vigo com novo sistema de travagem que poderia ter evitado acidente

A automotora que descarrilou há um mês tinha um sistema analógico, como metade das composições que fazem esta linha. Todas passam agora a ter um sistema digital que se sobrepõe à acção do maquinista.

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Comboio que descarrilou aproximou-se da estação de O Porriño, na Galiza, em excesso de velocidade Nelson Garrido

A partir desta segunda-feira todas as automotoras que fazem a linha Porto–Vigo passam a estar equipadas com o sistema digital ASFA (Anúncio de Sinais e Freio Automático), que reforça a segurança da condução. A decisão é da CP, a congénere portuguesa que explora este serviço em parceria com a Renfe, apurou o PÚBLICO.

Com este equipamento o maquinista não só tem de dar conhecimento que interpretou a informação relativa aos sinais de limitação de velocidade que lhe aparecem na via, como é obrigado a cumpri-los: se não reduzir a velocidade, este sistema actua automaticamente parando o comboio.

Um equipamento deste tipo poderia ter evitado, há exactamente um mês, o descarrilamento do comboio Celta junto à estação de O Porriño, na Galiza, do qual resultaram quatro mortos, entre os quais o maquinista português. O ASFA digital impediria que o comboio se aproximasse da estação em excesso de velocidade. A composição passou as agulhas da linha principal para uma linha alternativa a 118 Km/hora quando não deveria exceder os 30 Km/hora.

Nessa altura, apenas metade das 18 composições disponíveis para o serviço do Celta, que são geridas pela CP, estava equipada com o ASFA digital. As restantes têm o ASFA analógico, um sistema mais antigo que só faz o comboio parar automaticamente se o maquinista não premir um botão confirmando que visualizou os sinais de limitação de velocidade. Se carregar no botão e mesmo assim não reduzir a velocidade, o sistema analógico não trava o comboio.

A automotora que no dia 9 de Setembro fazia o serviço do primeiro Celta da manhã entre Porto e Vigo estava equipada com o ASFA analógico. Fosse outra composição com o sistema digital e o acidente poderia não ter acontecido.

Espanhois já queriam substituir antes o sistema 

A percepção, por parte da própria Renfe – a congénere espanhola da CP - de que este modelo analógico deveria ser substituído pelo ASFA digital, mais seguro, é também anterior ao acidente de O Porrinho. A empresa tem vindo gradualmente a substituir o sistema analógico pelo digital em todos os seus comboios. E agora já tem uma data marcada para acabar esse processo: a partir de Janeiro todas as composições em Espanha deverão possuir o ASFA digital. Mas no Celta, é já a partir desta segunda-feira.

O acidente está a ser investigado pelo Tribunal Superior de Justiça da Galiza, pela Renfe, pelo Adif (a gestora de infraestrutura) e pela entidade independente CIAF (Comissão de Investigação de Acidentes Ferroviários), que conta com a colaboração do seu congénere português, o Gabinete de Investigação de Segurança e de Acidentes Ferroviários (GISAF). Este último já pediu à CP um conjunto de informações relativas ao material circulante, ao maquinista e aos procedimentos operacionais da circulação do comboio, que serão entregues à autoridade espanhola.

O Celta é um serviço com quatro circulações diárias entre Porto e Vigo. Normalmente dois dos comboios são assegurados por maquinistas espanhóis e dois por maquinistas portugueses.

55 mil passageiros este ano

Segundo a CP, este serviço internacional transportou entre Janeiro e Agosto de 2015 cerca de 53 mil passageiros, número que aumentou para 55 mil no período homólogo em 2016. Nos mesmos períodos as receitas aumentaram de 274 mil para 289 mil euros. Cada comboio transportou, em média, 56 passageiros.

Em 2015 o Celta proporcionou à transportadora portuguesa receitas de 1,2 milhões de euros (na verdade o valor gerado foi superior mas parte da receita é repartida com os espanhóis) contra 1,6 milhões de euros de despesas. Na conta de exploração da CP o prejuízo de 400 mil euros anual provocado pelo Celta é considerado residual.

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