Cinco sugestões de leitura: da economia de biscates ao idealismo

Cinco jornalistas do PÚBLICO dão sugestões de leitura, desde o papel da imprensa durante a Presidência de Trump à pressão do turismo em Barcelona.

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Protesto contra o Presidente dos EUa junto à Trump Tower Reuters/MIKE SEGAR

 

A imprensa livre (e moderna) na era Trump

The New York Times, The Washington Post, Politico

 

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David Dinis, director

Trump pode ser destituído? Esta Presidência acabará como aqueles dias finais de Richard Nixon? Para sermos justos, andamos a fazer esta pergunta desde a hora em que Donald Trump foi eleito. E não é fácil garantir a neutralidade quando um Presidente começa o seu mandato com uma declaração de guerra aos principais jornais de referência de um país. Vimos fact-checks, campanhas de marketing promovendo a absoluta necessidade de um escrutínio independente, editoriais quentes, reportagens críticas, entrevistas duras. Mas aos cem dias era mais acertado falar de recuos do que de uma queda do Presidente. Até terça-feira.

Trump decidiu destituir o director do FBI, responsável por uma investigação sobre as suas ligações à Rússia de Putin – e uma alegada interferência na campanha. O resto talvez já saiba – e aqui no PÚBLICO há muito sobre isso. Mas o que me pedem é que aponte lá para fora, para lhe mostrar como eles, os jornais de referência, tinham razão. Veja o vídeo que o New York Times fez a resumir em apenas dois minutos e meio este caso, um caso de bom multimédia. Prossiga pela investigação de Rosenberg e Apuzzo, ainda no Times, mostrando o que Comney estava a fazer antes de ser despedido, uma investigação central nesta história. Continue pelo Washington Post (como não?), ouvindo um podcast com “a” questão chave que se coloca em Washington – Can he do that?”. Pare ainda no editorial do Post, para pensar duas vezes na questão: “A investigação sobre Trump ainda terá alguma credibilidade?”. E termine com a análise no Politico, um dos novos órgãos de referência dos EUA, com o título mais assertivo do dia em que a Casa Branca parece ter perdido a cabeça – e o Presidente parece ter encarnado em Nixon: Ok, NOW it is Watergate?”.

Ainda ninguém tem certezas, com a excepção desta: não há bem mais precioso numa democracia do que a imprensa livre – e moderna. Pois não? 

A economia dos biscates

The New Yorker

 

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Sérgio Aníbal, jornalista de Economia

É uma revolução a que assistimos todos os dias: o desenvolvimento de uma "economia de partilha", talvez mais correctamente designada como "economia dos biscates", está a modificar a um ritmo estonteante as relações no mercado de trabalho e na sociedade. Dando exemplos de casos concretos e falando com investigadores e decisores políticos, Nathan Heller, na New Yorker, faz mais um retrato (bastante completo) da forma como, nos Estados Unidos, um cada vez maior número de pessoas decide (ou é forçado a) trabalhar por conta própria prestando pequenos serviços ou alugando as suas próprias casas e carros, discutindo as diversas implicações que esse fenómeno tem para o funcionamento do mercado de trabalho. Será esta uma solução para libertar as pessoas da dependência das grandes empresas, permitindo-lhes gerir melhor o seu tempo e os seus interesses ao mesmo tempo que prestam um melhor serviço aos consumidores, ou apenas uma transferência de emprego e rendimentos dos actuais trabalhadores por conta de outrem para novos trabalhadores, mais qualificados mas igualmente mal pagos e mais precários? Ler

Sobre idealismo no mundo actual

CBS News

 

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Karla Pequenino, jornalista de Tecnologia

Benjamin Ferencz tem 97 anos e é o último procurador vivo dos julgamentos de Nuremberga: afinal, era um jovem de 27 quando ocupou o cargo por sua iniciativa. Depois, dedicou a vida a tentar parar os crimes de guerra trabalhando, inclusive pelo estabelecimento do Tribunal Internacional de Justiça, na Haia. Diz que viu do pior da humanidade, mas ainda não desistiu de tentar mudar o mundo. Lesley Stahl – que faz a entrevista para a CBS – não passa à frente das perguntas difíceis: confronta o optimismo de Ferencz perante a crise dos refugiados, o que aconteceu no Ruanda, e a situação no Sudão, mas o antigo procurador mantém a sua posição. “Não me considero idealista. Sou um realista e vejo progresso”, insiste Ferencz. A entrevista no site da CBS – possível de ver, ler e ouvir – explica como chegou e lidou com os julgamentos apesar da idade, até ao que faz agora. Podia continuar, mas vale a pena conhecer a vida de Ferencz através das suas próprias palavras. Fica só esta citação do próprio sobre a mudança: “Olhem o que aconteceu com os casamentos entre o mesmo-sexo. Para dizer a alguém que um homem pode ser uma mulher, uma mulher ser um homem, que um homem pode ter um bebé… As pessoas teriam dito, ‘Estás doido’. Mas é a realidade hoje em dia. O mundo está a mudar. E não podemos – sabem – desesperar porque nunca aconteceu antes. Nada de novo já aconteceu antes”. É daquelas histórias que nos inspira a tentar ser melhor. Ler

Barcelona: lojas históricas em SOS

La Vanguardia

 

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João Pedro Pincha, jornalista do Local

Não deve haver outra cidade na Europa onde se sinta tanto um clima de tensão entre habitantes e turistas como em Barcelona. A irritação de quem lá mora já é antiga e ganhou uma legitimidade renovada quando o actual executivo camarário tomou posse e prometeu pôr cobro ao crescimento desenfreado da oferta hoteleira e de apartamentos turísticos. Um pouco por toda a cidade, mas em especial na Barceloneta, há cartazes que, de uma forma relativamente indelicada, pedem aos turistas que voltem para casa e não arrendem apartamentos que deviam ser para habitação permanente. Esta semana, pela primeira vez, a indignação assumiu contornos mais violentos. Um grupo de pessoas atirou ovos podres, tinta e granadas de fumo contra dois hotéis do Poblenou, um bairro onde a pressão turística tem aumentado nos últimos anos. A este propósito, vale a pena ler uma reportagem do La Vanguardia já com umas semanas sobre comércio histórico e tradicional de Barcelona. Vale a pena, sobretudo, porque tirando especificidades locais e a dimensão das cidades, este texto poderia ter sido escrito sobre Lisboa. É certo que a capital portuguesa ainda não está no ponto de saturação que atingiu Barcelona, mas cada vez mais se teme por cá que já não falte muito. Os sinais são os mesmos, as queixas dos comerciantes e habitantes também. Ler

 

Os EUA e o mundo: para ouvir um dia de cada vez

The New York Times, NPR

 

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Ruben Martins, jornalista do P24

O mundo cabe bem em meia dúzia de minutos de uma manhã. É como uma newsletter em áudio, essencial numa altura em que vivemos com demasiada informação disponível. O pioneiro foi o New York Times que trouxe o The Daily. Este podcast segue uma linha de aposta em conteúdos de áudio no jornal líder em subscrições online. Michael Barbaro junta-se a uma equipa de produtores com provas dadas em formatos muito populares como o Radiolab. O produto final leva-nos numa viagem de sons pelas notícias, com uma sonoplastia excelente e em 20 minutos de duração. O formato é mais do que uma simples leitura das manchetes do dia, como o jornal chegou a ter nos primeiros tempos de uma nova “ciência” a que podemos chamar podcasting. Também a NPR lançou um formato semelhante. A rádio pública americana apostou num briefing matinal chamado Up First. Em dez minutos de duração, num formato mais leve do que o The Daily, são trazidos para uma espécie de debate explicativo os grandes temas do dia. Este formato ganha pela participação dos vários correspondentes da NPR. Apesar de ser um formato pouco explorado em Portugal, há já um podcast que parte da mesma premissa de The Daily ou do Up First. Injecção é feito por Nuno Viegas e Catarina Marques. A proposta é dar uma visão global da semana informativa em cinco minutos de duração. O jogo de vozes leva-nos a um resumo do que afinal vale mesmo a pena saber no final de mais uma semana. São notícias para os ouvidos. Ouvir

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