Chegaram 60 mil doses da vacina BCG, mas são só para crianças de risco

Especialistas explicam que a incidência da tuberculose diminuiu e atingiu, em 2014, o patamar de 20 casos por 100 mil habitantes.

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Apesar de o novo Programa Nacional de Vacinação (PNV) apenas entrar em vigor em Janeiro de 2017, a vacina da tuberculose (BCG) já deixou de ser dada a todas as crianças à nascença há mais de um ano, desde Maio de 2015, altura em que se agravou a ruptura de stock devido à falta de fornecimento pelo único laboratório (dinamarquês) que abastecia Portugal. Em Fevereiro deste ano, chegaram 14 mil doses de um novo laboratório (japonês), que forneceu agora mais cerca de 60 mil doses de BCG, mas a ordem é vacinar apenas as crianças de grupos de risco, por exemplo expostas a infecções familiares ou que residam em comunidades de maior incidência nas regiões de Lisboa e Porto.

No entretanto, gerou-se alguma confusão. Durante a apresentação do novo PNV, o director-geral da Saúde, Francisco George, afirmou que, até Janeiro de 2017 (altura em que a BCG universal sai oficialmente do programa nacional), todas as crianças ainda não vacinadas poderiam fazê-lo, desde que as respectivas famílias pedissem nos centros de saúde. Mas a nova norma esta quarta-feira publicada e por ele assinada contraria esta tese. Já há pais de crianças a queixar-se da confusão e contradição nas informações que têm sido veiculada pelos responsáveis da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Segundo a norma esta quarta-feira publicada, a BCG destina-se apenas a crianças com menos de seis anos de grupos de risco. “Em Portugal, os indicadores associados à tuberculose têm melhorado consistentemente nos últimos anos”, justifica-se. A incidência da tuberculose tem estado a diminuir e atingiu, em 2014, o patamar de 20 casos por 100 mil habitantes, ano em que foram registados 2080 novos casos. A vacina não previne completamente a infecção, mas apenas a evolução para quadros graves.

“O que está recomendado e é boa prática é vacinar as crianças de risco. Isso mesmo está expresso nas normas da DGS e também saiu em despacho”, assegurou ao PÚBLICO Teresa Fernandes, da direcção do Serviço de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde. Foi, explica, a Comissão Técnica de Vacinação que, depois de consultar outros especialistas, chegou a "este consenso". Teresa Fernandes adiantou que estão agora disponíveis cerca de 60 mil doses a distribuir pelas crianças que forem identificadas e referenciadas pelos médicos.

Quanto aos alertas emitidos esta semana pelo Infarmed sobre a nova vacina proveniente do Japão — que pediu uma atenção especial aos eventuais efeitos adversos —, a especialista da DGS frisou que isto é normal sempre que há um medicamento novo no mercado.

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O que muda?

Após a erradicação da varíola, a vacina da tuberculose dada à nascença a todas as crianças foi, assim, a segunda a ser retirada do PNV — que sofreu uma série de outras alterações. Em contrapartida, vai sair em breve uma recomendação aconselhando as grávidas a vacinarem-se contra a tosse convulsa, de forma a permitir que os bebés fiquem protegidos até à idade (dois meses) em que são eles próprios vacinados contra esta doença que ainda tem causado algumas mortes. Mas serão as grávidas a custear as vacinas.

No novo PNV há várias outras alterações, como a mudança das idades para a vacinação contra o tétano. Até agora de dez em dez anos, a imunização contra o tétano será feita aos dez, 25, 45, 65 e, após esta idade, de dez em dez anos. Outra mudança passa pela introdução no PNV da vacina contra o meningococo B, que causa sépsis e meningite, mas apenas para grupos de risco.

Vai ser ainda introduzida a vacina hexavalente, uma imunização combinada contra difteria, tétano, coqueluche, poliomielite, Haemophilus tipo B e hepatite B aos dois e seis meses, evitando-se desta forma que os bebés levem duas injecções nestas idades. Outra melhoria é a da vacina que protegerá no futuro contra nove tipos de vírus do papiloma humano, que abrange nesta versão 90% dos tipos de HPV associados ao cancro do colo do útero e que vai começar a ser dada aos dez anos em vez do período alargado entre os dez e os 13 anos.

Também está previsto o reforço da vacina do sarampo, parotidite epidémica e rubéola, assim como da vacina combinada da difteria, tétano e tosse convulsa, que passa a ser feita aos cinco anos de idade, antes da entrada para a escola. 

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