Bons amigos

Pediu para falar comigo porque o filho não queria vir à consulta. É uma mãe preocupada, com muitas que encontro na minha consulta semanal com adolescentes. Funcionária pública, começa por se queixar dos “cortes” no seu vencimento, que só permitem trazer para casa cerca de 700 euros. Separada há cinco anos do pai do João, lamenta que esteja quase sempre sozinha nas decisões sobre a educação do filho:

— Professor, é muito difícil educar hoje em dia. Desde que fez 16 anos, há pouco mais de um mês, o João só liga aos amigos. Com o pai, como já disse, pouco posso contar. Os meus pais vivem longe e cada vez sabem menos da nossa vida (aliás, sou eu que não quero contar muitas coisas, tenho vergonha). O João agora sai à noite duas vezes por semana, volta muito tarde, no dia seguinte está irritado e quer dormir. Mas o pior é os amigos: não os quer apresentar, diz que nada tenho que ver com o assunto. Não sei nada sobre eles, mas suspeito de que não são grande coisa…

Comecei por dizer a esta mãe que a melhor forma de ter a certeza sobre as suas dúvidas é insistir para que o filho traga os amigos para o espaço familiar. Se houver recusa com motivos pouco credíveis, se as informações da escola não forem tranquilizadoras ou ainda se existirem notícias desagradáveis de adultos próximos, os pais devem agir com prudência, mas sem hesitações.

Quando a relação mãe-filho se organizou, desde a infância, numa base de empatia e respeito mútuo, os resultados são mais imediatos: os amigos aparecem lá em casa e muitas crenças falsas são desfeitas à medida que se conhecem os outros jovens. Se, pelo contrário, a desconfiança há muito se estabeleceu na família e as perguntas dos pais são sempre sentidas como invasão da privacidade, tudo se torna mais difícil. É então a ocasião para ter uma conversa a sós com o adolescente, por exemplo um almoço em restaurante tranquilo. É o momento de manifestar interesse pelos tempos livres do filho, perguntar pelos seus gostos e preferências, expor os receios parentais sem medo, mas também sem hostilidade para com os outros jovens. Não esquecer que o filho adolescente costuma ser muito sensível à crítica de um amigo, tantas vezes considerado um ídolo e referência para o seu quotidiano.

A conversa estruturada sobre as amizades dos filhos adolescentes é importante para o futuro. Trata-se de um confronto de ideias sobre uma decisão importante para a vida: ter bons amigos na adolescência e evitar o isolamento é uma das garantias mais importantes para a saúde mental na idade adulta. Na maior parte dos casos, não se torna necessário impor uma ruptura urgente, porque o adolescente depressa compreenderá que a reflexão sobre as suas amizades permite organizar o futuro com mais segurança. Nalgumas situações, no entanto, é preciso agir: se os amigos formam um grupo onde é frequente o consumo de álcool e drogas, se o mau rendimento escolar é a regra e se a segurança dos jovens está em perigo, a recusa firme dos pais é importante.

Disse ainda a esta mãe preocupada para não isentar o filho de responsabilidades. A teoria das “más companhias” está por demonstrar, quando os nossos adolescentes estão firmes no caminho certo a seguir.

A meta educativa deverá ser sempre ajudar os adolescentes a ter bons amigos, porque sem eles a vida fica bem menos alegre.     

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